Jane Austen, seus lares e seus amigos é o título que escolhi para a tradução do livro Jane Austen, her homes and her friends de Constance Hill.

Alguns anos atrás comprei uma edição de 1901 do livro de Constance Hill e fiquei encantada com a viagem. Resolvi então traduzir, mas por vários motivos nunca terminei a tradução.

Para marcar os 250 anos de nascimento de Jane Austen, que será comemorado em dezembro de 2025, além do selo que já mostrei no Instagram, resolvi terminar essa tradução.

Coloco aqui o primeiro capítulo como um “aperitivo” e ao longo do trabalho vou comentando curiosidades no Instagram ou no YouTube.

Jane Austen, seus lares e seus amigos | Fingerpost

CAPÍTULO 1

Chegando em Austenlandia

Em uma bela manhã, em meados de setembro, uma charrete ia abrindo seu caminho pelas vielas estreitas de Hampshire. Nela estavam sentadas duas ardorosas admiradoras de Jane Austen, munidas com caneta e lápis e ansiosas para ver os locais onde ela morara, para ver as cenas que ela vira e para apreender tudo que pudesse ser apreendido sobre os arredores onde ela vivera.

A charrete em questão foi alugada em um vilarejo rural de um ferreiro e foi conduzida pela esposa dele. A boa mulher sabia pouco mais do que nós (as viajantes) sobre a viagem de 35 quilômetros que tínhamos pela frente. No entanto, haveria postes¹ para nos orientar e, sem dúvida, viajantes aos quais pedir informações; enquanto isso o nosso robusto pônei trotava tão rapidamente que parecia pronto a realizar uma viagem ainda mais longa.

Tínhamos estudado o mapa e imaginávamos que por meio de vários atalhos poderíamos concluir a viagem antes do cair da noite. Infelizmente não havia atalhos! Ficamos intrigadas com a primeira escolha de caminho a tomar. Não havia nada a fazer senão perguntar junto de um grupo de chalés à beira da estrada. Então, uma de nós foi até um jardim que brilhava com as flores de fim do verão e bateu na porta de entrada. Não tivemos resposta. Tentamos outra – ladeada por macieiras carregadas – e outra e mais outra, sem sucesso.

Nos ocorreu então que os habitantes deviam estar todos fora, colhendo lúpulo. A verdade é que tínhamos deixado os aldeões trabalhando duro lá no começo de nossa jornada, onde a filha do pároco tinha se juntado a um dos grupos e estava ajudando algumas mulheres idosas a encher seus sacos.

Como eram bonitas as ruelas estreitas por onde passamos, com as suas sebes de árvores arqueadas e as suas margens íngremes adornadas com samambaias amarelas e os longos ramos de amoreiras cobertas de frutas maduras! O objetivo imediato desta viagem não era outro senão Steventon – local de nascimento de Jane Austen; mas Steventon, ao que parecia, era uma vila onde não havia alojamento, e tínhamos sido aconselhados a parar em Clarken Green, uma aldeia a poucos quilômetros de Steventon, onde poderíamos dormir numa pequena taberna rural. Portanto, tínhamos que ir para Clarken Green.

Perguntamos o caminho a um trabalhador rural que encontramos por acaso, mas descobrimos que ele não sabia da existência de Clarken Green. Por fim, quando chegamos a uma espécie de vilarejo, um estalajadeiro de boa índole, em meio a seus pombos e aves, inteirou-se de nossas dificuldades e disse-nos que havíamos saído muito do nosso caminho, e aconselhou-nos a seguir pela estrada de Basingstoke. Com a ajuda de suas instruções, conseguimos fazer isso e, ao anoitecer, entramos na antiga cidade de Basingstoke. Depois de uma breve parada, retomamos a viagem e, finalmente, quando a escuridão estava se aproximando, chegamos triunfantes à solitária pousada de Clarken Green. Mas nosso triunfo durou pouco. Dentro de casa, tudo era uma confusão: quartos desmontados, caixas de embalagem obstruindo as entradas e móveis empilhados contra as paredes. Descobrimos que o dono da pousada e sua família estavam às vésperas de partir. Ele disse que era impossível nos receber, mas nos ofereceu o uso de uma charrete e um cavalo novo para nos levar a Deane – um lugar alguns quilômetros mais a oeste – onde ele achava possível encontrarmos abrigo em uma pequena pousada. O nome nos chamou a atenção, pois Deane tem suas associações com a família Austen. Lá, o pai e a mãe de Jane passaram os primeiros sete anos de sua vida de casados.

Vamos para Deane, com toda certeza! Assim, despedindo-nos de nossa cocheira, a esposa do ferreiro, enquanto ela levava seu robusto pônei para o estábulo, partimos alegremente pelas estradas que escureciam. Logo em seguida uma luz apareceu entre as árvores e, em poucos minutos, paramos em frente a uma construção baixa, irregular e caiada de branco – a pequena estalagem à beira da estrada de Deane Gate.

Em pouco tempo, uma luz apareceu entre as árvores e, em poucos minutos, estávamos parando em frente a uma construção baixa, irregular e caiada de branco – a pequena estalagem de Deane Gate.

Nossos problemas haviam terminado, e apreciamos muito nosso jantar aconchegante, que comemos em uma pequena sala de estar impecavelmente limpa. Uma conversa com nossa hospedeira nos deu a bem-vinda informação de que estávamos a menos de três quilômetros de Steventon. Nossa pequena taberna e Gatehouse (como era conhecida antigamente) ficava, segundo ela, onde a estrada para Steventon se junta à estrada principal a oeste. Isso, sem dúvida, daria importância para os Austen e seus vizinhos do campo; e nos lembramos das palavras de Jane em uma de suas cartas, quando, ao falar de um passeio de Basingstoke a Steventon, ela diz: “Deixamos Warren em Dean Gate a caminho de casa”. Assim, adormecemos feliz naquela noite e com a certeza de que estávamos realmente na terra de Austen.


NOTA

¹ Postes com extensões em formato de um dedo indicador, em inglês fingerposts, que mostram a direção de lugares. Para ilustrar este post uso a imagem original do fingerpost que consta no final do capítulo 1. A ilustração é de Ellen Hill, irmã de Constance e companheira de viagem que ilustrou o livro.

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