IMPORTANTE
Se você ainda não leu Razão e sentimento (ou Razão e sensibilidade),
não leia este post pois saberá o final do livro.
Uma das coisas que mais aprecio na obra de Jane Austen é o estilo “a vida como ela é”. Nada de ilusões.
Para ilustrar o que digo um trecho final de Razão e sentimento, onde o narrador fala do destino dos personagens e ficamos sabendo que fim levou Willoughby.
That his repentance of misconduct, which thus brought its own punishment, was sincere, need not be doubted – nor that he long thought of Colonel Brandon with envy, and of Marianne with regret. But that he was for ever inconsolable, that he fled from society, or contracted an habitual gloom of temper, or died of a broken heart, must not be depended on–for he did neither. He lived to exert, and frequently to enjoy himself. His wife was not always out of humour, nor his home always uncomfortable; and in his breed of horses and dogs, and in sporting of every kind, he found no inconsiderable degree of domestic felicity.
| Sense and Sensibility, chapter50 |
Que o arrependimento de sua má conduta, que trouxe consigo a sua própria punição, era de fato sincero, é o que não se pode por em dúvida. Não se pode duvidar também de que ele pensasse no coronel Brandon com inveja e em Mariana com tristeza. Mas não se devia esperar que ficasse eternamente inconsolável, que fugisse da sociedade ou adquirisse um temperamento sombrio ou morresse de desgosto, porque não fez nada disso. Continuou a sair e a divertir-se. Sua esposa nem sempre estava de má vontade e o seu lar nem sempre foi desagradável; na criação de cavalos e cães, na pratica de “sports” de todo o genero encontrou um grau de não insignificante de felicidade domestica.
| trad. Dinah Silveira de Queiroz |Que o arrependimento por sua má conduta, que assim lhe trouxe o próprio castigo, era sincero, disso não podemos duvidar… nem de que pensava sempre no coronel Brandon com inveja e em Marianne com saudade. Mas daí não devemos inferir que tenha permanecido para sempre inconsolável, que se afastou da sociedade, passou a viver sempre mal-humorado ou morreu de paixão — pois na verdade nada disso aconteceu. Sua mulher nem sempre lhe era desagradável, nem a casa sempre sem atrativos; e em sua criação de cavalos e cães, na prática de esportes de toda a espécie, encontrou um grau razoável de felicidade conjugal.
| trad. Ivo Barroso |
Este é o final que Jane Austen deu ao Willoughby e acredito que mais realista impossível. Elinor certamente passou toda vida tranquila com Edward. Quanto a Marianne tenho dúvidas.
Fui presenteada, esta semana, com Willoughby’s Return. Estou curiosa para saber a solução que Jane Odiwe deu ao seu enredo e assim que puder lerei e contarei para vocês.
Enquanto isso digam-me o que vocês acham do casamento de Marianne Dashwood com o Coronel Brandon.
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Eu gostei do final que ela deu pro Willoughby, homens se comportam assim em geral. Mas eu devo confessar que meu coração meio Marianne ainda acha que “Love is to burn, to be on fire”, e gostaria muito mais se o Willoughby virasse um Heatcliff e sofresse a vida toda pela Marianne. Mas, aí não seria Jane Austen, rs.
Quanto ao casal Marianne e Coronel Brandon, não acho que a Marianne foi muito feliz não, em toda a sua vida tudo lembrou a ela do Willoughby, do amor deles, do porque deu errado, e se poderia ter sido diferente. Mas acho também, que ela reconheceu o amor brando do Coronel Brandon, e respeitou esse jeito calmo dele de amar. E foi leal a ele, assim como ele a ela. E o amou, não do jeito que ela amou o Willoughby, mas amou a outra maneira àquele homem que sempre foi gentil e cuidou dela.
Mell,
mulheres também, mulheres também!
Raquel,
Acho que finalmente Marianne começou a dar valor ao carinho e cuidado que o Coronel Brandon tinha por ela. Ela reconheceu isso e aprendeu a amá-lo, mas acho que o amor da vida dela foi mesmo Willoughby. Mesmo que algumas pessoas possam dizer que ela poderia ter amadurecido e por isso amado o coronel de uma forma mais tranquila, ainda assim acho que como Willoughby ela não amou mais ninguém.
Abraços.
Oi Raquel!
Gosto muito do estilo realista de Austen, sem aquela coisa de contos de fada.
Com respeito ao casal Marianne/Brandon acho que tiveram uma vida tranquila. Ele continuou amando-a e ela só lhe deu o respeito. Ma , eu acredito que se Willoughby insistisse Marianne pularia a cerca.
que lindo porta-retrato!
Denise,
é um pequeno relicário!
Raquel, eu acredito também que Marianne passou a vida lembrando do que poderia ter sido e não foi. Eu concordo com a Mell, quando diz que ela amou o coronel Brandon de uma outra maneira. Eu também acredito nisso. Além do mais, eu acredito que para Austen, de fato, a amizade e respeito mútuo entre um casal são os ingredientes fundamentais não apenas para o casamento, mas também para a continuidade mesmo do amor.
Marcia,
lembrando e amando, creio eu.
Já coloquei essa pergunta a mim mesma no meu blogue quando falei de Marianne Dashwood, e escrevi:
É das personagens que mais me faz pensar, porque ao contrário de todas as outras heroínas de Jane Austen, ela tem um “amor alternativo” – Colonel Brandon, não o amor que lhe era destinado pelo seu coração – Willoughby.
Não consigo perceber se foi verdadeiramente feliz. Jane diz no livro que Marianne nunca amaria às metades e por isso, aos poucos o seu coração tornou-se exclusivo ao seu marido, tal como um dia tinha pertencido a Willoughby.
Ela não é o final feliz a que Jane Austen nos habituou. Também não é uma Charlotte Lucas. É um meio-termo e por isso duvido da sua felicidade.
http://janeaustenpt-personagens.blogs.sapo.pt/tag/marianne+dashwood
Clara,
uma “meia” felicidade?
Da primeira vez que li o livro o final que a Marianne teve realmente me incomodou,eu achei meio inverossímil que ela tivesse aceitado casar com o coronel Brandon.
Atualmente eu não acho tão inverossímil o fato de que ela tenha se casado com ele,mas sim se ela sentiu um amor que não seja o fraternal…
Eu acho que ela foi mais feliz do que teria sido com Willoughby,mas nunca correspondeu ao grande amor que o coronel brandon tinha por ela.
Não sei… ela é o meio termo da felicidade. Aprendeu a amar Brandon, mas penso que foi mais um casamento de amizade e respeito do que um casamento de amor. Não sei até que ponto teria sido feliz com Willoughby, mas ele foi a sua grande paixão, mesmo com todas as falhas.
Dizendo de outra forma, penso que Marianne teve uma felicidade alternativa.