“Prezado Edward Ferrars”
por Rebeca Miscow
Desanuviando

Prezado Edward Ferrars,

Quando li Sense and Sensibility, comecei o livro não gostando de você. Terminei-o tendo compaixão pela sua pessoa, chegando a sentir simpatia. É que eu percebi qual era o seu problema: como você só conhecia as pessoas do seu meio (que, diga-se de passagem, não eram as pessoas mais legais do mundo), você nunca teve a capacidade de imaginar pessoas como Elinor, Marianne e Cel Brandon. Você era uma pessoa boa, mas nascida no meio de pessoas chatas e arrogantes. E o pior: você não tinha nenhuma imaginação. E imaginação, querido, só se ganha com livros e esperança. Jogos, encontros com amigos, tudo isso pode distrair, mas não dá a imaginação de que precisamos. E foi isso o que aconteceu com você. Acho revelador este diálogo que você tem com Elinor quando sabe que o Cel. Brandon te dará um presbitério:

— O coronel Brandon está me dando um presbitério! Será possível?

Ao que Elinor responde:

— A maldade dos seus parentes faz o senhor surpreender-se com provas de amizade que encontra nos outros.

Você se dá conta disso, Edward? Acho que só agora, ao lado da Elinor e dos parentes dela, é que você está percebendo que é possível haver pessoas boas e generosas no mundo.

Que sorte você teve, Edward! Que sorte a de ver que o mundo pode ser mais gentil e menos mesquinho, né?! E foi quando você começou a descobrir coisas e pessoas boas no mundo que eu comecei a gostar de você. É que geralmente gosto de pessoas que têm uma visão mais ampla do mundo nesse sentido (a família pode ser insuportável, mas você pode buscar e fazer uma família melhor; você mora numa cidade horrível, mas você pode se mudar para uma melhor – ou tornar a sua um pouco melhor; e por aí vai…). Não gosto muito de pessoas sem imaginação (e, em conseqüência, meio conformadas com o “sem graça”).

Bom, era isso o que eu tinha para lhe falar. Mande um abraço a Elinor. Dela, eu sempre gostei.

Da leitora,
Rebeca Miscow

Views: 106

Artigos recomendados

17 comentários

  1. Rebeca,
    eu também não gostei do Edward Ferras, mas ao contrário do que aconteceu com você, ele não ganhou minha simpatia no final do livro. Eu continuei achando ele uma pessoa de personalidade fraca e muito sem graça.
    Mas de qualquer forma, adorei sua cartinha 🙂

    1. Rebeca,

      assim como você e Dayana, nunca fui muito fã de Edward. Reconheço seus méritos em manter a palavra com a bruaca da Lucy Steel mas mesmo assim Edward continua me enervando com sua inércia!

  2. Ferrars não é o personagem masculino da Jane que mais gosto, no entanto sempre simpatizei com ele durante a leitura, identificação talvez, concordo com a Raquel que lhe dá crédito por haver se mantido fiel a sua palavra dada a Lucy Steel que fez com fosse deserdado isso mostrou certo caráter que decerto não veio da familia a qual ele pertence, quanto a inércia dele eu não me lembro de nenhum determinado momento que isso tenha acontecido na minha opinião, ( Raquel por favor me refresque a memoria, li o livro já faz tempo), porque certas atitudes do personagem foram até bem fora de sua zona conforto como por ex. enfrentar a familia e dizer que se casaria com Lucy e também não seguir a carreira politica que Mrs.Ferrars desejava para ele.

  3. Nique,

    a inércia de Edward em se decidir por uma profissão. Ele era pressionado pela mãe para fazer o que não queria e tinha forças para resistir aos desejos dela, mas não conseguia para fazer o que não queria?!

  4. Se essa carta não tocar o Edward(tenho medo que não) ele precisa receber uma carta com um abaixo assinado por todas as leitoras de Jane! Eu fico me perguntando se a inércia dele afertaria sua vida conjugal…pelo menos ele seria fiel.

  5. Essa de abaixo assinado é ótima!
    Mas quanto à vida conjugal de Edward, tenho forte pressentimento de que ele se tornou um homem mais confiante, convivendo com Elinor, Marianne e Cel Brandon.
    Bjos,
    Rebeca

  6. Rebeca,

    talvez você tenha razão, afinal ele está com a vida como queria e isso deve ter influenciado de forma positiva a vida de Edward.

  7. Adorei o texto da Rebeca e, realmente, nunca tinha pensado no Edward por esse ângulo: um homem bom que cresceu em meio a pessoas egoístas. Gosto do Edward, mas não chego a cair de amores como acontece com outros herois da Jane Austen, o jeito dele é bonitinho e só.

    Aliás, o único heroi que eu cheguei a gostar mesmo em Razão e Sensibilidade foi o Willoughby; isso até eu chegar no final do livro… Esta obra, para mim, é das meninas Dashwood e suas diferentes personalidades.

  8. Bárbara,

    não se culpe (risos), Willoughby é um rapaz irresistível!

  9. Não, é o do post do dia 06 de junho. Acho que é daquela versão moderna para o cinema. Na primeira foto, onde aparece ao lado de um senhor.
    bjos,
    Rebeca

  10. Concordo totalmente com a Rebeca. Aliás,se Edward e Cel. Brandon fossem os personagens principais, o livro teria quer ser intitulado “Chatice e tédio”.

Comentários estão encerrado.