Esta não é uma página em branco. É ilusão de ótica. Esta página está cheia de estórias!

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Esta semana visitei a Fundação Dorina Nowill para cegos. É claro que a pergunta que tinha em mente era: tem Jane Austen em braile? Mas fui apresentada a tantas outras coisas que essa questão ficará por último.

A história da Fundação se confunde, ou melhor, se funde na história de uma mulher extraordinária, Dorina Gouvêa Nowill. Dorina nasceu em 1919 e ficou cega aos 17 anos, numa época em que deficientes visuais não tinham acesso à cultura e à informação. Em 1946, ela e um grupo de amigas criaram a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, e daí em diante foram necessários muito trabalho e dedicação voltados à inclusão social de pessoas com deficiência visual.

Dorina Gouvêa Nowill

Dorina Gouvêa Nowill

A biblioteca da Fundação Dorina Nowill tem três tipos de livros: em braile, falado e digital. Os livros em braile são, em sua maioria, para o ensino fundamental e médio, literatura infantil, imagens, matemática e música. A produção desse tipo de livro é muito custosa e depende de patrocínio, pois, além dos serviços de revisão, preparação e leitura especializados, o volume de material é muito maior que o de um livro comum. Na foto abaixo se pode ter ideia de um livro infantil – com letras grandes em tinta e em braile -, para ser lido por pessoas portadores de qualquer nível de deficiência visual, e também por não deficientes.

Livro infantil em braile e tinta

Livro infantil em braile e tinta: crianças diferentes tornam-se iguais lendo o mesmo livro.

Os livros falados são voltados para área de lazer e cultura. São gravados por profissionais, sob demanda, no estúdio próprio da Fundação Dorina Nowill, e depois emprestados exclusivamente para os deficientes visuais. Há também uma equipe de ledores voluntários para outras publicações, como revistas e manuais. A Lei 9.610, art. 46, inciso I, alínea “d”, assegura a reprodução de textos exclusivos para deficientes visuais sem que isso infrinja direitos autorais.

Livros falados: O morro dos ventos uivantes, Urupês, O diabo veste Prada.

Livros falados: O morro dos ventos uivantes, Urupês, O diabo veste Prada.

Há também os livros digitais voltados para o ensino superior, que estão incluindo e mantendo muitas pessoas com deficiência visual na faculdade – a falta de biliografia adequada a esse tipo de necessidade era um dos grandes motivos de desistência dos estudos. Novas tecnologias, como o Digital Accessible Information System (Daisy), um formato internacional de acessibilidade, permite ao aluno navegar pelas páginas dos livros nos modos texto escrito e falado.

Teria de fazer um post gigante para escrever sobre tudo que vi e ouvi. Susi Maluf*, que me recebeu tão bem, garante que nossa conversa foi apenas um brevíssimo relato sobre tudo o que existe na Fundação Dorina Nowill! Afirmo para vocês que terminei minha visita encantada com a dedicação e com o profissionalismo do trabalho da instituição, que conta atualmente com a participação de duzentos voluntários nas mais diversas áreas.

Há muitas formas de contribuir com a Fundação Dorina Nowill, e a melhor maneira de sabê-lo é perguntando – entre no site e veja como.

* Susi Maluf, Gerente de Distribuição de Produtos – Biblioteca/Livro Falado.
** Todas as fotos foram feitas por mim (exceto a foto de dona Dorina Nowill, gentilmente cedida pela Fundação) e autorizadas para o Jane Austen em Português.

Quase esqueço de minha pergunta inicial! Não, no momento não há livro falado ou em braile de Jane Austen na Fundação. Como não havia exemplares em tinta, deixei lá Orgulho e preconceito e Razão e sentimento, que obviamente se submeterão aos trâmites da casa, como demanda e ordem de publicação. E posso dizer que a fila é grande!

Mais fotos de livros da Fundação Dorina Nowill.

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Gráfica da Fundação Dorina Nowill. Placa em metal para impressão em braile.

Exemplar de Harry Potter em braile

Harry e as relíquias da morte em braile. Livro em 16 volumes.

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Catálogo em Braile da Pinacoteca do Estado. O violeiro, de Almeida Junior

http://blogdorina.wordpress.com/

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13 comentários

    1. Leticia,

      obrigada. O que percebi no trabalho da Fundação além do carinho, foi o profissionalismo.

  1. Raquel, que beleza!

    E esse Urupês aí, hein? Aposto que foi de propósito…

    Bjs

  2. Lindo post! Já trabalhei como ledora voluntária (não para uma instituição, mas para uma amiga cega) e é um trabalho muito gratificante. Na época, a gravação era em fita, mesmo, e cada livro rendia muuuuitas fitas. Hoje, com o computador, tudo ficou mais fácil… Mas já não faço mais esse trabalho. Gostaria muito de voltar a fazê-lo!

    1. Elaine,

      obrigada!
      Onde você mora deve tem alguma instituição como a Fundação Dorina Nowill?

  3. Que post excelente, Raquel!

    A história e o trabalho da Fundação Dorina Nowill são mesmo muito interessantes! Promover a inclusão social é uma atitude admirável.

  4. Oi Raquel!
    Gostei muito de saber sobre o trabalho da Fundação Dorina Nowill. Como é bom ver que não há barreiras para a cultura e o mundo da imaginação.
    Mudando de assunto, Raquel você sabe que a série EMMA estreará hoje na Inglaterra? Por favor se souber de alguma novidade conte-nos!

  5. Gostei do post. Quando morei no Rio, sempre pegava ônibus com um rapaz cego que ia para o Instituto Benjamin Constant. Ele podia não ter visão, mas tinha tantos conhecimentos, e uma gana de aprender as coisas, que eu ficava impressionada.
    Acho fundamental que “traduzam” bons livros ao braile. Porque leitores desses livros há.
    Bjos,
    Rebeca

  6. Rebeca, eu também tive essa experiência, porque ia todo santo dia pra Praia Vermelha e fiz amizade de ônibus com muitos deficientes visuais.

    Como eles são animados, não? Muitas vezes mais do que quem enxerga. Aliás, o conceito de visão é tãããããão relativo…

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