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Em janeiro do ano passado tive uma gratificante troca de emails com o tradutor e professor de alemão, Jose Alexandre da Silva. O assunto, é claro, foi Jane Austen.

Com a devida autorização publico trechos de nossa correspondência para contar para vocês quão interessante é o mundo da tradução e as particularidades de cada língua, neste caso o alemão.

Stolz Vorurteil

Sobres as minhas indicações de traduções de Jane Austen José fez as seguintes observações:

“Das traduções citadas, algumas podem ser consideradas modelos de tradução: tanto as do Ivo Barroso quanto a do Lêdo Ivo. Na Alemanha, as traduções são inferiores se comparadas as do Barroso e do Lêdo. Entretanto a coisa muda, quando comparadas as dos outros tradutores. O parentesco entre o alemão e o inglês (ambas são línguas germânicas) nem sempre garante que as traduções alemãs sejam superiores as nossas.”

Fiquei curiosa sobre a inferioridade de algumas (creio que não devem ser todas) traduções alemãs pois como ele mesmo diz “ambas são línguas germânicas” e perguntei um pouco mais sobre o assunto:

“Alexandre, concordo, temos as ótimas traduções de Ivo Barroso e Lêdo Ivo e sinceramente gosto muito de Rachel de Queiroz com Mansfield. Tenho especial carinho pela tradução de Lúcio Cardoso mesmo reconhecendo o ótimo trabalho de Celina Portocarrero. E claro, temos as tenebrosas!
Muito interessante saber sobre as traduções de Jane Austen na Alemanha. Tem algum detalhe que seja o principal “pecado” nas traduções alemãs?
Por exemplo: as traduções francesas, não sei se em todas, mas pelo menos as primeiras, foram traduzidas em tom mais meloso ou romântico. Esta é a crítica que já li só não posso confirmar pois meus francês não serve mais nem para leitura.”

E vejam que descoberta interessante na pronta resposta de José Alexandre:

“Tem sim!!! o principal pecado é que – e isto vale para a maioria das traduções alemãs, com raras exceções devido à sensibilidade de alguns tradutores, principalmente mulheres (afinal são mais sensíveis) – , devido à dureza da própria língua alemã, os tradutores endurecem determinados personagens. Os que são sensíveis se tornam duros e os que são duros tornam-se mais duros ainda. Mas como isto é feito: simplesmente os tradutores cortam determinadas falas de personagens, principalmente, as que expressam algum sentimento “positivo”, ou seja, a Jane Austen alemã (tadinha) é bem menos sensível que a de qualquer outra nacionalidade. Ah!! o povo também é assim: coisa rara ouvir um eu te amo (ich liebe dich) mesmo entre casais apaixonados.”

Eu gostaria muito de ler uma dessas traduções mas certamente não vou apreender alemão tão cedo (para não dizer nunca…). Mas a curiosidade continua me atazanando e como José Alexandre disse que pretendia comprar alguma tradução de Jane Austen, resolvi colocar o primeiro capítulo de Stolz und Vorurteil (Orgulho e preconceito) de duas traduções que tenho.

Deixo para a apreciação de vocês, principalmente para quem entende alemão, estas duas páginas que são o primeiro capítulo de Orgulho e preconceito. A primeira, da editora Anaconda, com tradução de Karin von Schwab e a segunda, da editora Reclam com  tradução de Ursula e Christian Grawe.

PS: adoraria ver Mr. Darcy “mau que nem pica-pau” até o final do romance…

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10 comentários

  1. Ahh, mas isso de endurecer personagens é chato, pois
    muda totalmente o que foi criado pela escritora e os fãs acabam não conhecendo
    a real obra, tadinha da Jane rs.

    Agora fico me perguntando, se o gentil e adorável Bingley vira um poço
    de amargura na tradução. Pior,que eu não consigo imaginar ele não sendo
    fofo como ele é! 😀

    1. Fernanda,
      quando o José Alexandre me contou esse detalhe palavra que fiquei com vontade de saber alemão só para tentar entender esse tipo de tradução/sentimento. Talvez tenham tornado Mr. Bingley um pouquinho mais tolo… será?

  2. Nossa sempre ouvi que os alemães fossem pessoas mais fechadas, ao se comparar com os braseileiros, mas não sabia que influênciava na tradução de livros, muito interessante essa informação, o que eu já ouvi sobre interferência seria sobre os franceses, no qual eles romantizavam um pouco as histórias, principalmente os livros russos.

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