Os ingleses desde a época medieval sempre foram grandes consumidores de vinho. Henrique II e sua rainha consorte, a famosa Eleanor da Aquitânia bebiam vinhos da região de Bordeaux, na França. O beberrão Falstaff de Shakspeare consumia o Madeira de Portugal e o Xerez da Espanha.

Vin de Constance

Nos anos de 1660/70 eles dominavam o comércio de vinho em Portugal e em 1795 quando tomaram o Cabo (África) do holandeses foi quando descobriram o doce Constantia! Para se ter uma idéia da importância do vinho para os ingleses na década de 1760, Robert Dodsley, livreiro londrino e responsável pelo grande dicionário de Samuel Johnson acreditou que valia a pena publicar um livro de registro de adegas: o The Cellar-Book.

Jane Austen menciona o consumo de vinho, especialmente o Constantia, no seu livro Razão e sentimento (ou Razão e sensibilidade) onde a senhora Jennings, como toda boa alma, acredita que pode curar todos os males com um gole – de água com açúcar a vinho – como neste caso.

“My dear,” said she, entering, “I have just recollected that I have some of the finest old Constantia wine in the house that ever was tasted, so I have brought a glass of it for your sister. My poor husband! how fond he was of it! Whenever he had a touch of his old colicky gout, he said it did him more good than any thing else in the world. Do take it to your sister.”

— Minha querida — disse ela, entrando —, acabo de lembrar-me de que ainda tinha uma garrafa aberta do excelente vinho de Constância, e trouxe um copo para oferecer à sua irmã. Meu marido é que gostava muito deste vinho! Sempre que tinha um ataque de gota, dizia que isto lhe fazia melhor do que qualquer outra coisa neste mundo. Quer levá-lo a sua irmã?
| Cap. 30, trad. Ivo Barroso |

Como Marianne já dormia, Eleanor, mesmo achando graça na propalada eficiência do dito vinho para problemas tão diversos, resolveu beber, pois afinal ela também tinha seu coração despedaçado!

Pequena história do Constantia

Em 1659, o holandês Jan van Riebeeck e Hendrik Boom plantaram as primeiras uvas no Cabo, África do Sul. Mais tarde esses vinhedos passaram para o governador Simon van der Stel que deu nome ao vinho, provavelmente em homenagem à neta do oficial da Companhia das Indias Ocidental Holandesa, Constantia van Goens, que garantiu a ele a fazenda – o que equivale dizer, quase todo o vale. Quando ele morreu em 1712 o herdeiros dividiram a fazenda em lotes a venderam. Em 1778, Hendrik Cloete, o novo proprietário iniciou seu trabalho de reavivar as plantações que estavam muito negligenciadas. Os anos de 1800 a 1818 foram o auge da fama do vinho de Constância. Seus filhos herdaram a propriedade: Jacob Pieter ficou com a parte nomeada Groot Constantia  e Johan Gerhard Cloete com a Klein Constantia, onde ele construiu o solar, de mesmo nome. Johan produziu o vinho até 1840 quando vendeu a propriedade.

Depois dessa divisão, que permanece até os dias de hoje as herdades foram vendidas para diversos proprietários. O Groot de Constantia tem vários vinhos usando as palavras “Constantia” e “Constance” e o Klein de Constantia tem um vinho chamado “Vin de Constance”, vinho doce que segundo o site é uma re-criação do antigo Constantia. Os vinhos atuais são classificados como “cult wine”.

Foi nesse período, final do século 18 e início do 19, portanto a época de Jane Austen, que os vinhedos e particularmente o Old Constantia, ou Vin de Constance, estava no auge de sua fama. Aqui podemos ver que os Austen, se não possuíam este vinho, certamente freqüentavam onde ele era consumido.

Garrafa antiga de Vin de Constance

Antiga garrafa de Vin de Constance | Foto © Stiaan
No rótulo está escrito 1883 e na descrição da foto 1821.

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8 comentários

    1. Raquel says:
      September 20, 2010 at 1:20 pm
      Bruno,

      muito obrigada! Esta semana ganhei de sobrinho sommelier um Old Constantia, ou melhor, um Vin de Constance, que está aguardando ocasião especial com a família para ser degustado!

  1. Marcia Caetano says:
    September 21, 2011 at 8:08 pm
    Raquel, adorei o post. Estou fazendo um outro blog sobre gastronomia que com certeza vai ter uma seção “gastronomia e livros” e vou guardar na memória de fazer um link para esse seu post. Aí eu te aviso quando entrar no ar.

    1. Marcia,

      passado estes quase três (como o tempo passa, socorro!), pergunto: você fez o blog sobre gastronomia?

      1. Marcia,

        como você pode ver estou concentrando meus textos pois o tempo está cada vez menor e assim me parece que ocorre com todos. Abraços, raquel

  2. Que post interessante, Raquel! Fiquei com vontade de provar este vinho.
    E é curioso ver como o vinho sempre desperta paixões e rende boas histórias. Faz um tempo, li o livro VINHO E GUERRA, que conta as estratégias dos produtores de vinho na França para esconder seus vinhos dos nazistas. Se gostar do assunto, vale a pena ler.
    Bjos,
    Rebeca

    1. Rebeca,

      comentei com meu sobrinho sobre o livro Vinho e guerra e descubro que ele tem o livro Certamente lerei. O Vin de Constance é uma delícia posso dizer pois ganhei uma garrafa e saboreie lentamente!

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