“I do not want people to be very agreeable,
as it saves me the trouble of liking them a great deal.”
“Eu não quero que as pessoas sejam muito agradáveis,
o que me poupa o problema de gostar delas ser uma excelente coisa.”
Jane Austen, em uma de suas cartas para a irmã, Cassandra
Sir V. S. Naipaul, em sua casa, no Wiltshire, Inglaterra.
Foto: AP Photos, The Sidney Mourning Herald
No dia 31 de maio, em uma entrevista para a Royal Geographic Society, o escritor V. S. Naipaul, considerado um dos grandes escritores vivos da prosa inglesa, quando perguntado se considerava alguma escritora que correspondesse, em termos de literatura, a seu trabalho, respondeu:
I don’t think so.
Creio que não.
Neste momento, nada mais natural, para uma sociedade inglesa, aventar o nome Jane Austen. Mas o escritor refutou a possibilidade:
“couldn’t possibly share her sentimental ambitions, her sentimental sense of the world”.
“não poderia compartilhar suas ambições sentimentais, sua acepção sentimental do mundo”.
Até aqui nada demais, parte do público leitor acredita que a autora é muito sentimental e muitos a consideram desta maneira, às vezes baseados apenas nos filmes. Mas voltemos a entrevista de V. S. Naipaul. Ele também asseverou que consegue identificar se um livro foi escrito por uma mulher ou por um homem, bastando para isso ler um ou dois parágrafos. E explicou o motivo:
“sentimentality, the narrow view of the world”. “And inevitably for a woman, she is not a complete master of a house, so that comes over in her writing too,”
“sentimentalismo [das mulheres], a visão estreita do mundo” […] “E inevitavelmente para uma mulher, ela não é a chefe de uma casa, e isso aparece em sua escrita também,” […]
Sobre a obra de Naipaul nada direi pois nunca o li. A opinião dele sobre Jane Austen talvez seja um misto de sua notória misoginia e a necessidade de se manter em evidência neste mundo que todos são estrelas. Imagino que seja cruel, alguém tão laureado, imaginar se daqui duzentos continuará sendo grandemente admirado.
Acabei ficando com pena do sujeito. Ah, esses ingleses! Criam Cavalheiros e depois jogam-lhes Jane Austen na cara… Isso não se faz.
Para não parecer que que sou muito parcial com Jane, termino com George Eliot**:
“Blessed is the man, who having nothing to say, abstains from giving us wordy evidence of the fact.”
“Bem-aventurado o homem, que não tendo nada a dizer, se abstém nos dar verborrágicas provas do fato.”
George Eliot, em Impressions of Theophrastus Such
- Recomendo a leitura de Sergio Rodrigues (Todoprosa) que resolveu fazer um teste divertido: “O teste Naipaul: qual é o sexo desses escritores”.
- A Gazeta de Curitiba, também aproveitou a ocasião (obrigada, Tania!) e pergunta: “Quem é sua escritora favorita?”.
- The New Yorl Times (2009) “V. S. Naipaul, a Man Who Has Earned a Knighthood, a Nobel and Enemies Galore”
- “I have read that her husband, Nobel laureate, the author of at least 29 books and the scourge of Jane Austen, Henry James and E.M. Forster (to begin with), is famously difficult.” Texto completo no * The Sydney Morning Herald (2007): “A grown man does not worry” por Tom Adair.
- ** The Telegraph: “Hay Festival: no woman writer will ever be as good as me, says VS Naipaul”.
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Olá, Raquel. Li recentemente “Os mímicos” desse sr. Naipaul. O livro me agradou muito e indico para aqueles que, através da ficção, pensar sobre os políticos de países pobres… mas não sabia que o autor de “The Mimic Men” é misógino, fiquei surpresa. Sabe quando você admira a obra mas não gosta da figura pública de quem a escreveu?
Paula,
acontece. Não me incomodo quando a obra é ficção e não tem cunho moralista. De Naipaul, nunca li nada e talvez não leia, não por sua misoginia mas por falta de tempo, tem muito outros que quero desesperadamente ler e não encontro tempo.
Não tinha a menor ideia de quem era esse senhor, quanto a identificar se o livro foi escrito por uma mulher ou homem eu coincidentemente estava lendo um livro que se chama No name, e durante a maior parte pensei que se tratava de uma autora no entanto so depois fui perceber que era do Wilkie Collins, aparentemente eu não possuo a “habilidade” desse senhor…
Ah Eu adoro George Elliot, finalmente consegui meu Middlemarch ( traduzido), barato e novinho em um sebo =D
Nique,
agora morri de inveja do seu Middlemarch. Eu só li um bocado do meu, em inglês, que além de tudo está caindo aos pedaços.
Arrogante e misógino. É intrigante uma pessoa tão esclarecida em algumas áreas, sustentar opiniões deste tipo. Também acho que tem relação com o que você disse no post, Raquel: “(…) a necessidade de se manter em evidência neste mundo que todos são estrelas”.
Tenho visto tantos exemplos disso ultimamente que também creio que boa parte da motivação seja o inquietante interesse de sempre atrair atenção, nem que para isso seja necessário disparar declarações polêmicas que não acrescentam em nada. Pelo contrário: acabam manchando a imagem da própria pessoa perante as demais.
Júnior,
vejo as pessoas inteligentes, as tolas não contam, fazer coisas ridículas por uma porção ínfima de fama…
Júnior e Raquel:
acho que V. S. Naipaul realmente acredita no que diz. E não diz o que nos estarrece necessariamente para chamar atenção ou pela fama. Temos a ilusão de acreditar que quem é ganhador de Nobel é uma pessoa superior, o supra-sumo da inteligência. Um Nobel pode muito bem ser só estúpido, mesmo que tenha escrito uma obra admirável.
Paula,
não sei se ele acredita ou não, mas certamente tem vaidade suficiente para fazer tal declaração. Premios de fato não conferem nada às pessoas além da premiação pela obra específica.
Raquel, uma declaração assim é que mostra quanto a visão é estreita, não? Separar o universo entre feminino e masculino é algo muito limitado. Sempre leio Clarice Lispector quando sentia a necessidade de lidar com emoções só minhas e sempre leio Machado de Assis quando quero perceber mais algum sociedade da sociedade que não havia percebido. Agora, tenho lido Jane Austen e ela me tem dado as duas visões. Nada disso, porém, tem a ver com o fato dos serem homens ou mulheres, mas da maneira particular como cada um mostra isso. Estou cansada de ouvir esse tipo de argumento, que parece já ter se tornado prática comum, de que homem é assim e mulher é assado, utilizando essa dicotomia para generalizar comportamentos e justificar ações. Lamentável que uma figura pública e notória corrobore esse tipo de estreiteza de visão de mundo… Um abraço,
Érika,
visão estreita e um ego maior do que a inteligência!