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O filme Mansfield Park de 1999 da diretora Patricia Rozema foi traduzido no Brasil com o título de Palácio das Ilusões. Esta versão desde o inicio dá enfase ao tema escravidão, muito diferente do livro. Nas primeiras cenas, Fanny Price a caminho de Mansfield Park  pergunta ao cocheiro da carruagem “que navio era aquele na baia”. Ele responde que é um navio negreiro e diante da surpresa da menina começa um discurso com suas suposições:

Aye, slaves. Probably some captain or heroic ship doctor… brought home some darkies as gifts for the wife.
É, escravos. Provavelmente algum capitão ou heróico oficial-médico… que trouxe para casa algum(as) pretinhos(as) de presente para a esposa.

A próxima menção é quando Tom Bertram volta de Antigua, onde estava com o pai e as irmãs perguntam como foi por lá e onde estava o pai. Tom, bêbado como uma cabra, responde:

Antigua… All the lovely people there paying for this party.
Antigua… todas aquelas adoráveis criaturas pagando por este festim.

Tom refere-se aos escravos e a boa vida em Mansfield como veremos ao longo do filme.

Quando Sir Thomas volta para casa e já com os ânimos apaziguados sobre a representação teatral, Lady Bertram, em um dos serões, pede para o marido que fale sobre os negros. Onde tem início uma conversa baseada em teorias da época sobre negros e mestiços:

Lady Bertram: Do tell us more about the Negroes, dear.
Conte mais sobre os negros, querido.

Sir Thomas: The mulattos are well-shaped, and the women especially well-featured. I have one, so easy and graceful in her movements and intelligent as well. Strangely, two mulattos can never have children. They’re like mules in that respect.
Os mulatos são bem proporcionados e as mulheres especialmente jeitosas. Eu tenho uma, muito dócil e graciosa em seus modos e também inteligente. Estranhamente, dois mulatos não podem ter filhos. Eles são, nesse aspecto, como as mulas.

Edmund Bertram: Excuse me, father, for contradicting you, but that is nonsense. You cannot say such things.
Desculpe-me, pai, por contradizê-lo, mas isso é um disparate. O senhor não pode dizer tal coisa.

Sir Thomas: I did not say they are mules. I said they are like mules. Edward Long’s ‘History of Jamaica’. Read it before you challenge me. I’ve a good mind to bring one back with me to work here as a domestic.
Eu não disse que eles eram mulas. Eu disse que pareciam com mulas. História da Jamaica, de Edward Long. Leia-o antes de me contestar. Cheguei a pensar na possibilidade de trazer um deles comigo para trabalhar aqui como doméstico.

Fanny Price: Correct if I am in error, but if you were to bring a slave back to England, there would be some argument whether or not they should be freed. If I’m not mistaken…
Corrijam se cometo um erro, mas se o senhor trouxer um escravo para a Inglaterra, haveria alguns impedimentos, se ele deveria ou não ser libertado. Se não estou enganada…

Neste ponto Sir Bertram desconversa e diz para Fanny que ela está muito bonita. Mas ela insiste no assunto,

I’ve done some reading on it… Thomas Clarkson, under Edmund’s guidance.
Eu tenho lido sobre isso… Thomas Clarkson, sob a supervisão de Edmund.

Edmund a defende comparando-a a um homem em inteligência,

Fanny has a voracious mind, as hungry as any man’s. And her writing is remarkable, in a style entirely new.
Fanny tem uma mente voraz, faminta como a mente de qualquer homem. Seus escritos são notáveis e num estilo inteiramente novo.

O tio volta a elogiar a beleza da sobrinha e promete um baile para apresentá-la à sociedade. O assunto escravidão é encerrado definitivamente. Fanny sai para cavalgar na chuva para “clarear as ideias”. Quando Edmund diz que a atitude dela é uma tolice, afinal será apenas um baile ela responde enfurecida:

I’ll not be sold off like your father’s slave!
Eu não serei oferecida [vendida] como os escravos de seu pai!

Quando Tom Bertram volta para casa muito doente, Fanny que estava de castigo em Portsmouth volta para Mansfield para cuidar do primo. Uma noite, ao abrir a pasta de desenhos de Tom, fica horrorizada ao ver as cenas de violência e sexo contra os escravos  tendo o tio como protagonista. Sir Thomas aparece e enfurecido manda-a embora queimando logo a seguir todos os desenhos.

A partir desse momento Fanny Price passa a exibir um olhar de superioridade.

E no final, Fanny como narradora, conta que Sir Thomas abandonou seus negócios em Antigua e passou para plantação de fumo. Não antes sem dar uma paradinha na narração como que dizendo, trocou seis por meia dúzia.

Assim como no post sobre a versão 2007, comento apenas o enfoque sobre a escravidão, não o filme como um todo.

O livro Mansfield Park fala discretamente sobre o assunto escravidão. O filme da diretora Patricia Rozema é sobre escravidão.

  • Traduções das legendas mea culpa.

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12 comentários

  1. Nenhuma das versões de Mansfield park já feitas eu gostei plenamente, a de 1999 principalmente pelo enfoque excessivo na escravidão e a distorção do carater do Sir Thomas contudo um filme interessante sobre escravidão é Amazing Grace com a Romola Garai (Emma).

    1. Nique,
      gostei da versão de 1972 e também me agradou muito Amazing Grace.

  2. Já ouvi vários comentários sobre esse filme, na maioria, bons (mas, claro, se for para comparar com aquela versão de 2008 – se não me engano – qualquer filme é bom). Estou gostando muito dessa série de postagens sobre “Mansfield Park”, bastante interessante.

    1. Bárbara,

      acredito que Mansfield Park seja a obra de Jane mais difícil de adaptar para as telas pois até mesmo as fã da autora consideram o livro diferente e chato… Esta versão de 1999 terá ainda uma resenha aqui no JAP sobre o filme como um todo. Espero que ainda este ano.

  3. Também estou gostando muito dessa série de posts sobre “Mansfield Park”, apesar de ainda não ter lido o livro ou ter assistido séries ou filmes baseados na obra. Falando nisso, quando percebi que “Mansfield” estava em último lugar na preferência dos votantes naquela enquete disponibilizada aqui há algum tempo atrás, confirmei que o livro não é mesmo tão apreciado pelos leitores e leitoras de Jane. O livro chega a ser mesmo muito chato e cansativo, Raquel?

  4. Eu sou uma grande fã da versão de 1999 enquanto filme. Trouxe à superficie uma série de temas que como disse foram mencionados discretamente na obra.

    No entanto, não o vejo como uma adaptação da obra mas sim como um filme baseado na obra.

    1. Clara,
      talvez esse seja o ponto, não é uma adaptação e sim inspirado na obra.

  5. Nossa, Mansfield Park foi o último livro da Jane que eu li, e confesso que não recordo onde é mencionado o tema da escravidão.

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