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Continuo… Pagando minhas dívidas!

Primeiro Emma. No capítulo 35, a senhora Elton insiste em arrumar um trabalho para Jane Fairfax e esta defende-se como pode da incivilidade da outra,

[…] “When I am quite determined as to the time, I am not at all afraid of being long unemployed. There are places in town, offices, where inquiry would soon produce something–Offices for the sale–not quite of human flesh–but of human intellect.”

“Oh! my dear, human flesh! You quite shock me; if you mean a fling at the slave-trade, I assure you Mr. Suckling was always rather a friend to the abolition.”

“I did not mean, I was not thinking of the slave-trade,” replied Jane; “governess-trade, I assure you, was all that I had in view; widely different certainly as to the guilt of those who carry it on; but as to the greater misery of the victims, I do not know where it lies. […]”

— […] Quando estiver segura quanto à época, estou certa de não ficar muito tempo sem emprego. Há escritórios em Londres que se incumbem desse tipo de atividade – escritórios que transacionam, não propriamente com a carne humana, mas com o intelecto.

— Oh! minha querida, a carne humana! Você chegou a chocar-me! Se pretendeu fazer uma invectiva contra o mercado de escravos, asseguro-lhe que o senhor “Neném” sempre foi um tanto amigo da abolição.

— Não pretendi… não estava pensando no comércio de escravos — replicou Jane.  — O comércio de governantas, asseguro-lhe, era tudo que eu tinha em vista; mas quanto à miséria das vítimas, não sei em qual dos dois é maior. […] | Tradução: Ivo Barroso

Como é possível notar, ao longo das obras de Jane Austen, e me refiro aos seis livros completos, a autora não entra ou se aprofunda em questões polêmicas fora do círculo de meia dúzia de famílias. Mas certamente fez muitas referências sutis que os leitores da época entendiam perfeitamente, e nós, hoje, apenas fazemos conjecturas ou nem percebemos.

Neste trecho de Emma vemos que o “comércio”* de escravos era considerado algo chocante entre as pessoas da sociedade de  Highbury. Tanto o era que a senhora Elton fica na defensiva, quando Jane Fairfax fala em comércio de carne humana.  E neste momento temos quase certeza que, se senhor Neném não trabalhava mais com escravos, o fez algum dia. Imagino que os abolicionistas usassem o termo human flesh quando se referiam ao assunto.

A senhorita Fairfax afirma que falava apenas de governantas, e na minha opiniã, exagerou um bocadinho quando disse que o sofrimento das vítimas era equivalente. Aqui vejo Jane Austen aproveitando um assunto, e com a maior a sutileza, falando de dois: escravidão e prostituição. Mas o segundo assunto requer um outro post… lá vou eu prometer… de novo!

A parte de Mansfield Park dividirei em dois ou três posts, pois o assunto é longo e quero falar também do filme de Patricia Rozema. Esta versão de 1999 dá grande enfase na questão da escravidão.

* sei que a tradução para “slave trade” é tráfico de escravos, mas acredito que usando a palavra “comércio” deixe a coisa mais abominável. Ah, e sem esquecer que na época era um comércio legal.
** Senhor Neném, aka Mr. Suckling – que tradução inspirada!

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Olaudah Equiano (veja post Os abolicionistas ingleses)

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