Resenha do romance Memórias perdidas de Jane Austen de Syrie James escrita para o Jane Austen em Português pela leitora Fernanda Huguenin da Costa.

Terminei a leitura dessa biografia romanceada essa semana e para os fãs que estão com receio do esquema “romanceado” do livro digo, bem contente, para não se preocuparem pois mesmo tendo certos personagens e situações inventados, não são de forma melosa ou fora da época. Tudo o que é apresentado no livro poderia muito bem ter acontecido. Talvez de maneira diversa e com outros nomes.

A escritora Syrie James usa uma narrativa semelhante a da própria Jane, leve e com descrições precisas e rápidas sobre paisagens, ambientes e pessoas.

Enquanto lia o livro me senti no mesmo clima em que os livros da Austen me deixam. Me senti como um personagem invisível que olhava com atenção o que era mostrado na rotina da vida da Jane e o modo de pensar de certos personagens. Também há muita comédia e muitos personagens que surgem na trama chegam a ser hilários de tão ridículos que são!

A história começa com a Jane Austen em Steventon nos contando os planos dos pais de morar em Bath. Novidade que deixa Jane muito triste pois Steventon era o lar dela desde pequena. Eles decidiram se mudar por que o pai de Jane, o reverendo George Austen, ia se aposentar. O desejo de mudança era partilhado pela senhora Austen pois viveram por muitos anos no interior e agora gostariam de usufruir da animação e do convívio social da cidade.

O outro motivo para a escolha de Bath como próxima moradia, segundo a própria Jane, era o fato da cidade ser a mais respeitável para jovens solteiras arrumarem maridos. Então a família parte e se instala em Bath.

Os Austen moraram tranqüilos e felizes em Bath durante quatro anos até o dia trágico do senhor Austen. A infelicidade dessa perda é somada ao fato preocupante que Jane, Cassandra e a senhora mãe passaram a depender da hospitalidade dos familiares, amigos e alojamentos alugados. Com a morte do revendo a viúva e suas filhas não tinham mais como pagar uma casa para se morar.

Porém, mesmo nessa situação complicada, Jane não se deixa abater, permanece tranqüila, alegre e com muito bom humor. Cheguei a admirar a Jane mais ainda, por essa força que ela demonstrou ter nesse momento delicado em que ela e sua família tiveram que passar.

Nessa época o irmão de Jane, Henry, a convida para passar umas semanas em Lyme Regis. Nesse passeio Jane conhece o belo e gentil senhor Frederic Ashford, um cavalheiro que faz parte de uma família rica e será o herdeiro de Pembroke Hall, que na minha sincera opinião é uma mistura de Edward Ferrars, Henry Tilney e um pouco de Willoughby . Ele será o grande amor da vida da nossa escritora. Vemos essa relação de amor se construindo no desenrolar da livro, mas essa história não se fixa apenas nesse caso de amor. Syrie James também nos mostra a vida cotidiana de Jane e seus familiares e as pessoas que serviram de inspiração para seus personagens, como por exemplo, o pomposo Mr. Collins.

Temos a chance de ver (ou tentar imaginar), como foi o processo de revisão que Jane fez em seus trabalhos, qual sua visão sobre seus erros e para quem e ela pedia sugestões. Podemos ver também como seus familiares reagiam a seus livros.

O final do livro, mesmo sendo melancólico por ser fiel na maior parte à história da Jane (o fato dela não ter se casado) não o torna triste ou amargo pois a verdadeira Jane Austen foi muito feliz cuidando de sua mãe, da irmã Cassandra e na criação de seus sobrinhos que tanto a amaram! Jane teve a sua felicidade mesmo sendo diferente de suas heroínas! Deixo esse trecho, dito pela própria Jane Austen:

“… agora acredito que haja uma felicidade a ser encontrada em todas as coisas na vida,em tudo o que é bom e agradável,bem como no que é triste ou doloroso.”

Como nenhum livro é perfeito vou citar alguns detalhes que me desagradaram mas que relevo pois posso encarar como coisas inventadas pela Syrie James.

Em certos momentos, como a paixão instantânea por um cavalheiro que conhecera por poucas horas, tendo Jane já 31 ano, me pareceu muito “Marianne Dashwood”.  Talvez eu tenha achado meio desagradável por sempre ter imaginado Jane Austen mais centrada, como as personagens Lizzy ou Elinor.

Levando em conta a história real de Jane Austen no caso Harris Bigg-Wither, a forma como Syrie James decidiu separar os “enamorados”,  Jane e Frederic, também me pareceu contraditória e hipócrita. Na minha sincera opinião de fã, não acho que a “Austen verdadeira” teria feito isso, imagino que ela e seu amado teriam pensado em um modo de viverem juntos mesmo com poucos recursos.

ROMANCE: Memórias perdidas de Jane Austen
AUTORA: Syrie James
TRADUÇÃO: Cláudia Mello
EDITORA: Record

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11 comentários

  1. Eu me emocionei com este livro e achei ótima a resenha. E também acredito que a Jane Austen foi muito amada e feliz a sua maneira. 🙂

  2. Li este livro há algumas semanas, realmente Austen foi muito amada por sua família e amigos, acredito que tenha falecido feliz.

  3. Ainda não li, ele está bem aqui, na minha prateleira de livros a ler! Pela resenha imagino que deva ser bom mesmo!

  4. Muito boa a resenha! Eu amei este livro, cada detalhe nele é uma delícia de ler. Mas ao contrário, eu concordei com o final porque acho que a Jane tinha a mesma resignação que Eleanor e ela não iria interferir na possível felicidade da pessoa que amava e seus semelhantes. Até por ser considerado na época casar por amor uma comida egoísta e até supérflua. Mas é muito legal ver e imaginar outros pontos de vista.

    1. Entendo Aline, mas ela não fez com que
      seu amado fosse feliz,afinal ele tinha
      sentimentos por Jane e ele teve que casar com uma
      mulher que ele era indiferente. E nisso achei que o Ashford
      ficou como Willoughby,preferiu ir contra seus sentimentos do
      que lidar com as dificuldades financeiras.

      E a Jane,depois de anos,viu que foi um erro ter feito esse
      sacrifício,tanto que ela escreveu o Persuasão que nos mostra uma
      protagonista arrependida de ter rompido o noivado,rs.

  5. Eu gostei de algumas partes desse livro (como o picnic onde ela conta histórias e faz o Ash se apaixonar por ela). Mas durante o tempo todo que eu li eu senti que a Syrie James diminuiu a grandeza da Jane, simplificando a escolha de seus personagens com fatos e pessoas de sua vida. Achei que ela copiou muitos pedaços dos livros da Jane (como a cena em Lyme de Persuasion) e fez parecer que a Jane só escreveu as cenas que viveu, tirando parte da graça e do gênio dessa grande escritora. Não sei se estou conseguindo me explicar, mas acho que a grandeza de Austen está em tornar o mundano em pura mágica. A Jane Austen desse livro parece apenas uma escritora de crônicas. Dá pra entender a diferença com a verdadeira? Tenho que tirar o chapéu pra Syrie James por ter coragem de escrever o livro, mas acho que ficou devendo.

    1. Rita,

      não li o livro e dificilmente o lerei tão cedo pois a fila é grande e o tempo é curto. O único “senão” que tenho com esse tipo de livro é o fato de muita gente passar a acreditar que de fato é uma biografia de Jane.

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