Como todos nós leitores brasileiros sabemos, sem tradução apenas uma minoria no Brasil leria não só Jane Austen como muitos outros autores estrangeiros. Mas há traduções e traduções, e aqui no blog muito se tem falado a respeito do assunto. Nesta semana de posts voltados para a escola nada mais oportuno que o assunto tradução.
Semana passada, o tradutor Petê Rissati entrevistou o embaixador e tradutor Jorio Dauster, entrevista da qual cito um trecho que me emocionou e me confortou pela defesa contundente de Denise Bottmann e sua luta contra o plágio:
PR: O senhor foi um dos tradutores que, em solidariedade à Denise Bottmann, lançaram o famoso manifesto em defesa da luta contra o plágio, que recebeu mais de três mil adesões. Podemos comemorar uma mudança no mercado ou ainda há muito o que fazer para evitar o plágio e as contrafações?
Jorio: Tenho asco desses mercadores de livros que, para não pagar uns vis reais a tantos bons tradutores necessitados de trabalho, roubaram sistematicamente o patrimônio intelectual de pessoas muitas vezes já mortas. Isso é caso de polícia, porém ficaria imerso no mar de ignorância e impunidade que infelizmente ainda banha o Brasil não fosse a garra e a persistência de Denise Bottmann. Estou com ela desde a primeira hora e, nessa luta, vou com ela até as últimas consequências, sobretudo quando os próprios autores desses plágios indecentes têm o descaramento de tentar coagi-la com ações judiciais.
A propósito, as traduções de Jane Austen que recomendo até o momento, por ter lido e por sabê-las corretas são:
Orgulho e preconceito – tradução de Lúcio Cardoso (publicada por várias editoras) e a de Celina Portocarrero, publicada pela L&PM
Razão e sentimento e Emma, ambas tradução do poeta Ivo Barroso, pela editora Nova Fronteira
Mansfield Park – tradução de Rachel de Queiroz, foi publicada pela antiga editora José Olympio e pela Global
A Abadia de Northanger – tradução de Lêdo Ivo, publicada pela editora Francisco Alves.
Persuasão – tradução de Luiza Lobo, publicada pela extinta editora Bruguera e pela Francisco Alves.
Em fevereiro de 2009, quando fizemos um pedido, a editora L&PM prometeu lançar a obra completa (os seis livros principais) da autora em boas traduções completas e com preços acessíveis. Orgulho e preconceito já está nas bancas desde janeiro e Persuasão está sendo traduzido, também por Celina Portocarrero. Ambos com prefácio de Ivo Barroso.
Outra boa notícia é que a editora Cia. das Letras com seu novo selo Penguin-Companhia também pretende lançar, ainda sem data certa, a obra de Jane Austen.
- Entrevista completa de Jorio Dauster no blog de Petê Rissati
- Entrevista com a tradutora e historiadora Denise Bottmann no Jane Austen em Português
- Entrevista com com o poeta e tradutor Ivo Barroso no Jane Austen em Português
- Posts relacionados ao assunto: “A palavra é… A palavra deveria ser…”; “Esclarecimento”; “Processo Landmark”.
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A iniciativa da Denise é maravilhosa. Quando pego um livro traduzido, sinto que estou totalmente na mão daquela tradução, como se alguém estivesse me guiando por um quarto escuro. Se não estiver correta, eu não tenho como saber. Por isso, o tradutor tem uma responsabilidade enorme com seus leitores. E as editoras, por consequência, têm também a obrigação de dar aos leitores boas traduções. Espero que se sintam cada vez mais cercadas e impossibilitadas de nos fazerem comprar gato por lebre.
Bárbara,
o trabalho da Denise é de utilidade pública e o apoio que recebeu de pessoas valorosas de todos os lugares do mundo é a prova disso!
Também espero que possamos comprar traduções com confiança.
Do jeito que geralmente agem os vários setores envolvidos com o assunto, de maneira tãããããão brasileira, aliás (com desculpas do tipo: “ah, é barato”, “ah, vamos esperar decisão judicial”, ah, o assunto não é tão simples assim, ah, veja bem isso e aquilo), a maneira imediata de detetizar o mercado editorial é, das duas uma: ou a pessoa tem fluência no idioma original e compara com a trad. em português, ou se inteira do assunto na internet e procura adquirir produtos confiáveis, de editoras confiáveis.
Afinal, não se louva tanto a internet como fantástico fluxo de informação? Taí um exemplo acabado de sua utilidade.
Detalhe: isso vale tanto para plágio de tradução como para traduções ruins e para traduções “googlescas”.
O direito do consumidor é algo que, graças a Deus, “pegou” no país. Todo mundo deveria fazer valer seu direito quando depara com um livro de qualidade abaixo da razoável (quando um simples e aceitável lapso se transforma em desleixo, ignorância e deselegância com o coitado do português). Se todos fossem cri-cris com livros como são com roupas, a coisa mudaria de figura.
Como somos um país (ainda) ignorante, a idéia geral – e distante – do que seja um livro gera um romantismo de botequim que acaba chancelando qualquer porcaria. !Um livro sempre é um livro” – bobagem! Há publicações que servem mais a uma lareira. Inclusive algumas edições de jane que andaram lançando por aí, seja por ser plágio, seja por sua constrangedora falta de qualidade.
Leticia,
essa comparação com roupas que pode parecer disparatada mas faz todo sentido. Também concordo sobre o produto livro e podermos reclamar no Procon.
PS.: Sobre a fala de Jorio Dauster, “para não pagar uns vis reais a tantos bons tradutores necessitados de trabalho”, é bom que se diga que tradutor é uma PROFISSÃO. É um ofício sacrificado, que exige muito aprendizado e ANOS de casca.
Quem começa na tradução deve fazê-lo após muito estudo, com muita prudência, de preferência sob a orientação de um mentor.
Jamais pode ser atividade “habilitável” após um curso feijão-com-arroz, para preencher horas vagas ou mesmo para para dar status a seres obscuros que querem reconhecimento na marra.
Muitas editoras, em nome da economia porquinha, não fazem essa peneira. Então, cabe ao público fazê-lo. E,para isso, o trabalho da Denise e desse grupo de tradutores é inestimável.
Leticia,
não havia me ocorrido essa figura do mentor, mas você falou e lembrei de um dos últimos post de Ivo Barroso em seu blog e como ele e outros poetas se reuniram com Manuel Bandeira e ele, Ivo, apresentou a sua tradução de um dos sonetos de Shakespeare. Tudo com muita admiração e delicadeza.
O texto está delicioso e chama-se “O sequestro da bandeira“.
relmente tem gente absurda que fica enganando as pessoas com traduções mal feitas e tambem fingindo que um texto é integral sendo que o original tem umas 300 páginas a mais!!! é muita falta de respeito o que certas editoras fazem.
bom e obrigada pelas dicas vou procurar essas edições
a minha emma é da best seller eu achei que bate com a historia mas não li original
e essa serie da l&pm vai sair mesmo?
Babi,
tem de tudo um pouco como você diz. Quanto a serie da L&PM, essa é a promessa do senhor Ivan Pinheiro Machado, editor e sócio da L&PM.
Raquel, ontem ganhei de presente a edição bilingue de Emma da editora Landmark. Você conhece? Logo nas primeiras páginas, achei alguns erros feios de tradução, mas não sei se sou eu que estou sendo chata demais…
Bárbara,
conheço a editora. Estou sendo processada por ela.
Ah, que bonitinho esse encontro!
Sabe que tive aulas com o Geir Campos na Praia Vermelha? Boas lembranças dele…
Leticia,
não entendi…
Excelente post, Raquel. Muito esclarecedor e de muita importância.
Lendo o comentário da Leticia, percebi então que estou agindo de maneira correta no que diz respeito a estar atento às questões de confiabilidade das editoras brasileiras no momento das compras de livros. Já faz um bom tempo que procuro me informar o máximo possível acerca da credibilidade e responsabilidade editorial das mesmas, seja através da internet ou de opiniões de pessoas entendidas do assunto. É sempre importante passar longe daquelas editoras que estão envoltas em desconfianças e atitudes criminosas neste sentido. Não precisa citar, não é? Sabemos muito bem.
O trabalho dos tradutores e tradutoras é muitíssimo árduo e de extrema importância para ser subjugado por pessoas que não tem o mínimo compromisso com a responsabilidade e ética no campo editorial.
Raquel, como provavelmente já teves ter percebido, sou Portuguesa (mas vivo em Bruxelas). A realidade em Portugal nao é exactamente a mesma, o plágio nao é um grande problema, mas traduções de má qualidade sim. Algumas editoras, por falta de dinheiro põem estagiários a fazer capitulos differentes e depois simplesmente unem os diferentes pedaços. Como podes imaginar, o resultado não é bom…
O 1o livro da JA que li foi uma tradução terrível do S&S. Só voltei a ler Austen muitos anos depois, ao ver a adaptação da BBC 1995. Por essa altura já conseguia ler bem em inglês bem, e que diferença! Sempre que possivel escolho os originais.
Alexandra,
nestes últimos anos no Brasil o plágio tornou-se um problema sério, e não estou falando de Jane Austen apenas. Também temos as péssimas traduções, algumas a ponto de serem recolhidas. Lamentável.
Tenho comigo algumas traduções portuguesas que ainda não tive a oportunidade de ler, o tempo sempre escasso, mas certamente lerei e comentarei aqui no blog.
Raquel, refiro-me ao econtro dos jovens com Manuel Bandeira, capitaneado por Geir Campos. O link do Ivo Barroso…
Leticia,
que cabeça, a minha!