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“Sanditon, um fragmento” é o título do artigo da sétima edição de Pride and Possibilities, da JALFF – Jane Austen Literacy Foundation da qual participo representando o Brasil.

Como muitos de vocês sabem, por vários motivos, tenho um carinho muito grande por essa obra inacabada de Jane Austen. Um deles foi escrever a apresentação do livro para a primeira tradução de Sanditon no Brasil, feita pelo poeta Ivo Barroso.

Quando li o artigo de Emily Prince, editora de Pride and Possibilities, me encantei e resolvi traduzir, com a devida permissão, é claro. O link para o texto original em inglês está no final do artigo.


Sanditon, um fragmento
por Emily Prince

Ler um romance que você sabe que está incompleto é uma experiência terrível. Ler um romance de Jane Austen que você sabe que é inacabado, é uma forma requintada de tortura.

A primeira vez que li Sanditon, eu não esperava gostar tanto, Isso soa estranho vindo de uma leitora como eu, que sempre amei as obras de Jane. Mas minhas expectativas tinham sido atrofiadas pelo conhecimento que essa obra era um rascunho, um fragmento não polido que Jane Austen provavelmente não imaginava  que seria mostrado para o grande público. Basicamente eu esperava algo bem primário, nos primeiros estágios, um peça escrita não nos padrões que nós esperamos encontrar vindo de Jane,

Para aqueles de vocês que já leram Sanditon, tenho certeza que concordarão comigo quando digo que é uma delicia. É mais engraçado do que o suave e reflexivo Persuasão. A marcante sagacidade e incomum ouvido de Jane para diálogos saltam das páginas em personagens que nos exasperam, intrigam e entretêm,  O ridículo Sir Edward Denham numa competição para o mais tagarela, ganharia de lavada de Miss Bates, Mrs. Bennet e Sir John Middleton. Diana Parker mostra uma tendência para hipocondria rivalizando com Mary Musgrove ou Mr. Woodhouse. E quem poderá dizer se o gentil e atraente Sidney Parker findará entre os charmosos canalhas como Willoughby e Wikcham, ou provará ser um herói como Henry Tilney?

Quanto ao enredo – antes de  Jane ficar muito doente a ponto de não conseguir mais escrever ela completou o cenário para que os personagens pudessem atuar. Sanditon, a cidade à beira-mar é um lugar real e vibrante que traz vida às páginas. Na época em que Jane estava escrevendo, as cidades balnearias estavam em crescente popularidade, tanto entre turistas quanto com pessoas que se reuniam para banhos de mar para melhorar a saúde. O leitor vê a cidade através dos olhos curiosos de uma recém-chegada, Charlotte Heywood,dando ao leitor uma generosa visão da identidade da cidade e seus habitantes.

O problema com Sanditon é que promete demais.

É uma verdadeira tristeza quando se está no meio da leitura, a mente correndo para longe, imaginando como a história pode vir a ser, e você percebe que nunca saberá. É como bater de frente numa parede de tijolos que você esqueceu que  estava lá. Não parece natural que esse fragmento que brilha como as obras acabadas de Jane seja apenas isso – um fragmento – e que nunca saberemos como ela poderia ter finalizado ele, e de como suas fantasias e intenções para com os personagens poderiam ter mudado.

Devido à riqueza da introdução que Jane nos forneceu, dezenas de continuações tem sido escritas, incluindo uma de Anna Lefroy, a querida sobrinha de Jane. Devo confessar, eu mesma não li nenhum dessas continuações. Eu temo o desapontamento, ou pior, uma irrevogável alteração na maneira como leio as palavras originais de Jane à luz de um novo enredo. Não é corajoso de minha parte, mas espero que seja compreensível.

De acordo com sua irmã Cassandra, Jane começou a escrever Sanditon em 27 de janeiro, há 200 anos atrás. No dia 18 de março, ela estava muito indisposta para continuar e abandonou seu trabalho após doze capítulos e aproximadamente 25.000 palavras. Aparentemente, ela tinha a intenção de nomear o manuscrito como “Os irmãos.” Foi a sua família que escolheu o nome “Sanditon” em 1925, quando foi publicado pela primeira vez.

Séculos depois, leitores ao redor do mundo continuam lendo e interpretando este fragmento de várias maneiras. O interesse e o entusiasmo conduzido por seu trabalho, nesse estágio preliminar é a evidência do talento único de Jane – se essa é a reação  que seus esboços inspiram, não é nenhum espanto que seus trabalhos completos tenham mantido sua surpreendente longevidade e popularidade.

Sanditon fragmento
Detalhe do manuscrito de Sanditon | Imagem: http://www.janeausten.ac.uk/

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2 comentários

  1. Adorei o artigo, obrigada pela tradução! E, assim como a autora, nunca tive coragem de ler nenhuma das continuações de Sanditon. Fico apenas intrigada com uma história que prometia ser tão boa!

    1. Thaís,
      também não li ainda uma continuação de Sanditon, mas confesso que nesse caso de uma novela inacabada tenho curiosidade para ver a continuação.

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