Quem lê o Jane Austen em Português seguidamente sabe o quanto aprecio a tradução de Ivo Barroso de Sense and Sensibility, publicado pela Nova Fronteira desde 1982 com o título de Razão e sentimento.

Título este que muitos leitores ainda estranham e sobre o qual já escrevi dois posts: “Razões e possibilidades” e “As razões da tradução“. Este último com a cartinha que Ivo Barroso escreveu para o Paulo Francis explicando os motivos de sua escolha do título como Razão e sentimento.

Para comemorar o bicentenário de Sense and Sensibility, a editora Nova Fronteira publicou esta edição ilustrada com desenhos de Hugh Thomson e com uma seção de capas de diversos países.

Nesta edição especial a apresentação é do tradutor e poeta Leonardo Froés, intitulada “Ironias e tramas de uma artista da palavra” onde ele coloca o destaque das mulheres, bem acima dos homens no romance:

Num tempo em que as mulheres, escravizadas pelas convenções e aparências, mal podiam se entender ante as exigências do sexo, é curioso que Razão e sentimento prescinda tanto dos homens. Os únicos que se destacam, os favoritos das moças por casar, mesmo assim são apagados em relação à exuberância que de todas as duas transborda.

Depois de ler este trecho me ocorreu que Fanny Daswood é merecedora de boa parte dos créditos das mesquinharias de John Dashwood, mesmo ele não sendo um santo!

Uma bela surpresa é o posfácio do psicólogo e crítico literário D. W. Harding (1906-1993), publicado em 1993 no periódico Notes and Queries. Pelo título, “O suposto formato epistolar de Razão e sentimento“, já percebemos que uma afirmação que vem sendo feita ao longos dos anos, por quase todos que escrevem sobre Jane Austen, é colocada em dúvida.

Um detalhe curioso no campo dos estudos literários é a ferrenha persistência em se afirmar que Razão e sentimento foi originalmente um romance epistolar, embora ninguém saiba apontar quem teriam sido os protagonistas dessa correspondência.

E este equívoco, se de fato for equívoco (talvez nunca saibamos) pode ter sido algo muito simples. Resumir os detalhes desta história a deixaria incompleta e desse modo só posso recomendar a leitura por inteiro.

No segundo posfácio, escrito por mim, “Devotos sem pregações”, falo sobre os admiradores da obra de Jane Austen, começando com seus parentes, amigos, estudiosos, leitores de pockts da década de 1930, passando pelos filmes dos anos 1940 até as grandes produções da BBC e por último a internet que definitivamente popularizou a obra de Jane.

Usado inicialmente apenas para leitores devotados, com o passar do tempo o termo janeite passou a identificar, muitas vezes de forma pejorativa, também os admiradores de tudo o que se refere a Jane Austen: filmes, eventos, livros inspirados na obra da autora, blogs, sites e tudo o que hoje torna Jane Austen um ícone.

Participar desta edição comemorativa foi um prazer e uma honra por estar em tão boa companhia.

E como Jane Austen está sempre por perto posso ouvir Mr. Elliot me repreendendo, gentilmente, “You are mistaken, that is not good company, that is the best.”¹

¹ “Está enganada, isto não é boa companhia, é a melhor.” | Persuasão, capítulo 16.

Razão e sentimento | Sense and Sensiblity, 1811, Jane Austen
Edição ilustrada comemorativa, 2011
Editora Nova Fronteira
Capa dura, 496 páginas
Ilustrações: Hugh Thomson
Tradução: Ivo Barroso
Apresentação: Leonardo Froés
Posfácio:  D. W. Harding, “O suposto formato epistolar de Razão e sentimento“, trad. Maria Helena Rouanet
Posfácio: Raquel Sallaberry Brião, “Devotos sem pregações”
Seção de imagens de capas de vários países

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6 comentários

  1. A honra é nossa. Amizade à parte, gosto do texto da Raquel. Não é prolixo nem resumido. Não é acadêmico, mas aborda de maneira um tanto mais profunda (até mais que a academia de massa tão em voga no país), passando longe dos clichês e do tão batido e vazio “que legal” geral que entope nossos olhos diariamente.
    Bjocas de marocas e, uma vez mais, parabéns e shmack!

  2. Mesmo se esta edição não fosse assim tão primorosa em questões de aspectos gráficos e pela ilustrações, ainda assim valeria muito a pena comprar pela tradução de Ivo Barroso que é excelente. Só o título do posfácio escrito por você e o trecho já me deixaram com vontade de lê-lo por completo. Congratulações novamente!

  3. Sem palavras.Primeiro porque a Letícia falou tudo,segundo porque um esforço para qualquer comentário à parte não se faz necessário.

  4. Raquel
    Oi Raquel
    Passei pra te falar apenas que adquiri meu exemplar ontem a tarde, na “Saraiva” que graças a Deus tem sempre Jane Austen nas suas prateleiras e que superou as expectativas, tudo maravilhoso, bela capa, belas ilustrações, seu texto esta primoroso, congratulações a todos e pra você um especial parabéns por fazer parte tão de perto deste projeto, vou ler como se fosse a primeira vez e trata-lo com delicadeza como a uma obra de arte que é rsrs.
    Bjs

    1. Sandra,

      espero que você aprecie este bela edição e muito obrigada pelas suas palavras.
      um abraço

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