Para quem Jane Austen escrevia suas cartas
por Mell Siciliano

O livro é sobre as cartas de Jane Austen….Mas para quem Jane escrevia suas cartas?

Bem, Jane tinha uma família considerada grande hoje em dia, mas de acordo com os padrões da época. Seus pais – George e Cassandra – tiveram seis filhos e duas filhas, a saber: James (1765-1819), George (1766-1838), Edward (1767-1852), Henry-Thomas (1771-1850), Cassandra-Elizabeth (1773-1845), Francis-William (1774-1865), Jane (1775-1817) e Charles-John (1779-1852).

A maioria das cartas do livro são para Cassandra Austen, e algumas outras para alguns de seus irmãos. Jane escrevia principalmente para sua irmã. Quando estavam longe, escreviam uma para a outra de quinze em quinze dias.

Mas ela também escrevia para outras pessoas. A seguir, falarei um pouco sobre cada correspondente. Alguns deles temos somente uma carta no livro, entretanto isso não significa muita coisa, primeiro porque várias cartas se perderam ao longo do tempo, e segundo porque sua irmã Cassandra queimou tantas outras, por julgar que o conteúdo não deveria se tornar público. Ou seja, a falta de alguém na lista abaixo não significa que Jane nunca escreveu para essa pessoa.

Cassandra Austen (1773-1845) – Cassandra foi a única irmã de Jane Austen. Ela era só dois anos mais velha que Jane e elas eram muitíssimo próximas. Nas suas cartas, elas falam sobre tudo: bailes, pretendentes, roupas, assuntos de família, amigos, etc. Foram cúmplices até a morte de Jane, em 1817. Em uma carta, Cassandra se refere à morte de Jane da seguinte maneira: “I have lost a treasure, such a Sister, such a friend as never can have been surpassed, – She was the sun of my life, the gilder of every pleasure, the stoother of every sorrow, I had not a thought concealed from her, & it is as if I had lost a part of myself.” – “Eu perdi um tesouro, tal irmã, tal amiga, nunca poderá ser superada, – Ela era o sol da minha vida, o dourador de cada prazer, o calmante de cada tristeza, não havia um pensamento que eu escondesse dela, e é como se eu tivesse perdido parte de mim.

Philadelphia Walter (1761-1834) – Philadelphia era prima de Jane do lado Austen da família. Há somente uma carta endereçada para ela no livro, e é uma carta de condolescência pela morte do pai de Philadelphia.

Martha Lloyd (1765-1843) – Martha era muita amiga de Jane e Cassandra. Existem várias cartas endereçadas a ela. Em 1828 Marta se casou com Francis-William Austen, ela foi sua segunda esposa.

Francis-William Austen (1774-1865) – Francis – comumente chamado de Frank – era um ano mais velho que Jane. Francis fez carreira na Marinha. Casou-se duas vezes, a primeira em 1806 com Mary Gibson, e a segunda em 1828 com Martha Lloyd. Teve seis filhos e cinco filhas em seu primeiro casamento, e nenhum filho ou filha no segundo.
Fanny Austen (1793-1882) – Fanny era sobrinha de Jane, a filha mais velha de seu irmão Edward. Ela e Jane se correspondiam com frequência, sendo bastante próximas. Após a morte da mãe de Fanny, Jane Austen se aproximou mais ainda da sobrinha, sendo a figura feminina que a moça precisava. Em 1884, Lord Brabourne, filho de Fanny, editou a obra Letters of Jane Austen, que continham as cartas que estavam em posse de sua mãe.

R. Crosby and Co. –  Nesta carta, Jane reclama aos editores R. Crosby and Co. a não publicação de seu livro Susan (este livro só foi publicado após a morte de Jane e seu título foi alterado para a publicação. O conhecemos atualmente como Northanger Abbey), que foi vendido a eles por volta de 1803. Passado seis anos, ele ainda não havia sido publicado. Jane diz ainda, que caso não obtivesse resposta dos editores, ela enviaria o livro para outra editora. Os editores respondem que não havia sido estipulado um prazo para a publicação, e que caso eles vissem o livro publicado por outra editora, tomariam as medidas legais cabíveis para retirá-lo do mercado. Mas informam, que caso seja do interesse da autora, ela poderia adquirir o livro novamente, pelo mesmo preço que foi vendido.

Anna Austen / Anna Lefroy (1793-1872) – Anna era sobrinha de Jane, filha primogênita de seu irmão mais velho, James. Depois de Fanny, Anna era a sobrinha com a qual Jane mais se correspondia. Após seu casamento com Benjamin Lefroy (sim, ele era parente de Tom Lefroy. O pai de Benjamin era tio de Tom), em 1814, Anne obviamente passou a se chamar Anna Lefroy, logo as cartas após 1814 já estão endereçadas com o novo sobrenome. Anna e Benjamin tiveram seis filhas e um filho.

Caroline Austen (1805-1880) – Caroline era irmã de Anna por parte de pai, fruto de seu segundo casamento. Caroline era afilhada de Cassandra. São poucas as correspondências de Jane para ela.

John Murray (1778-1843) –  John era o editor dos livros de Jane. Através dele foram publicados: Emma, Northanger Abbey, Persuasion e a segunda edição de Mansfield Park. Existem algumas cartas de Jane para ele, todas tratando sobre a publicação de seus livros. Entretanto, esse tipo de assunto era normalmente tratado pelo seu irmão Henry (sua ajuda foi inestimável para a publicação dos livros de Jane).

James Stanier Clarke (1767-1834) – O reverendo James Clarke era, dentre outras coisas, bibliotecário do Príncipe de Wales, e foi devido a essa função que ele e Jane Austen entraram em contato. Foi pela correspondência entre eles que Jane obteve a autorização de dedicar uma próxima obra ao príncipe. A obra em questão foi Emma.

Charles Thomas Haden (1786-1824) – Charles era o médico que cuidou do irmão de Jane -Henry – quando ele adoeceu. Na carta, de 1815, Jane agradece os livros que ele emprestou à família de seu irmão, dizendo que eles trouxeram muito entretenimento.

Lady Morley / Countess of Morley (1782-1857) – Não se sabe ao certo como Jane e a Condessa se conheceram, supõe-se que tenha sido através dos contatos londrinos de Henry. Fato é que a Condessa, que se interessava bastante por literatura, admirava as obras de Jane. Inclusive, durante algum tempo, acreditou-se que teria sido a Condessa a autora de Pride and Prejudice e Sense and Sensibility (lembrem-se que os primeiros livros de Jane publicados não indicavam que era ela a autora).

Catherine Ann Prowting  (1783-1832) – Jane conhecia a família de Catherine, especialmente sua mãe Elizabeth; os Prowting trabalhavam na paróquia de Chawton desde o século XVI. Na carta, Jane envia um exemplar de Emma para a família.

James Edward Austen (1798-1874) – James Edward Austen era sobrinho de Jane, filho de seu irmão mais velho, James Austen. Em 1816 ele escreveu Memoir sobre Jane Austen. Os filhos de James também publicaram ou colaboraram com obras sobre sua tia-avó.

Alethea Bigg (1777-1847) – Alethea Bigg e suas irmãs Catherine e Elizabeth eram amigas de Jane Austen e Cassandra desde a infância. Foi o irmão de Alethea – Harris Bigg – que protagonizou o famoso caso do pedido de casamento que Jane aceitou apenas para recusar no dia seguinte. Apesar desse contratempo, as moças continuaram amigas.

Charles Austen (1779-1852) – Charles era o mais novo da família. Assim como Francis, também servia na Marinha. Ele foi casado duas vezes, e teve no total cinco filhas e três filhos.
Anne Sharp (?-1853) – Anne foi governanta na casa de Francis-William Austen até 1806. Devido a problemas de saúde ela pediu demissão. Depois de passar por alguns outros empregos abriu seu próprio internato para moças por volta de 1823. O conteúdo da carta é basicamente a doença de Jane.

Frances Tilson (1777-1823) – Frances era esposa de James Tilson. Por sua vez, James Tilson era sócio do irmão de Jane – Henry – em seu escritório bancário em Londres, o Austen, Maunde & Tilson. Na época em que a carta foi escrita Jane já estava doente, e ela basicamente faz um relato sobre sua condição. A carta original se perdeu, e o que temos é uma versão com cortes, que estava no caderno de recortes biográficos de Henry Austen.

Cartas de Jane Austen para Cassandra
Cartas de Jane Austen para Cassandra – fragmento BBC

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3 comentários

  1. Essa relação com a Condessa me fez perguntar o porquê do uso “by a lady” nas primeiras publicações.
    Alguém sabe?

    1. Alice,
      era costume não mencionar autor, ou melhor autora, pois ser escritora não era exatamente uma profissão que caísse bem para uma “moça de família” por assim dizer. Lembre-se que mulheres com um certo status social, naquela época, não trabalhavam, casavam.

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