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Ainda não li Os Mistérios de Udolpho pois quero fazê-lo sem pressa e, infelizmente, este tempo é um luxo que não tenho no momento. Mas vocês, leitores do Jane Austen em Portugês, não ficarão sem uma indicação de peso. Claire Scorzi de quem já tenho publicado o artigo “Jane Austen e os movimentos literários” e o vídeo “Jane Austen”.nos autorizou graciosamente a publicação de sua resenha sobre Os Mistérios de Udolpho que foi lançado, em dois volumes, pela editora Pedrazul.

“Os mistérios de Udolpho – O gótico no seu apogeu”
por Claire Scorzi

Ann Radcliffe ficou conhecida por este e outros romances góticos – livros de mistério, suspense, ambientados em geral fora da Inglaterra (aqui, França e Itália) o que devia dar uma atmosfera “exótica” ao público leitor inglês, e quem sabe a ideia de que tais horrores não aconteceriam em solo britânico…

Otto Maria Carpeaux (História da Literatura Ocidental) escreveu que Radcliffe tinha certo talento literário, mas que hoje não a leríamos mais. Esta é uma das vezes em que discordo do grande Carpeaux. Embora eu não tenha como saber, ainda, se Radcliffe escreveu uma “obra” que permanecerá – só li este – apreciei muito descobrir que Ann Radcliffe tinha, de fato, talento literário:

Usa o gótico com discernimento, sem exagerar nas cenas e optando sempre pelo gótico fundamentado na razão – todos os “eventos estranhos” tem explicação racional – e criando boas cenas de suspense;

a atmosfera da narrativa é cuidada, sem transições abruptas e superficiais;

um possível feminismo – só possível! rs – na sua heroína, Emily, cuja firmeza moral é a sua única “arma” contra Montoni, mas que a autora consegue tornar admirável em mais de um episódio de confronto entre os dois personagens;

ausência do cinismo e irreverência tão comuns na literatura inglesa do século XVIII – ou seja, nada de Fielding – sem, contudo, abrir mão de um humor discreto;

frases de personagens memoráveis (inclusive algumas de Emily enfrentando Montoni);

personagens de apoio simpáticos (Annette e Ludovico, para citar só dois);

esforço de análise psicológica, o que me fez suspeitar que Radcliffe tinha certa familiaridade com a literatura francesa da época.

Enfim: um romance que merece ser lido.

Os mistérios de Udolpho

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3 comentários

    1. Claire,
      em primeiro lugar muito obrigada pela autorização para publicar seu artigo.
      Sobre o comentário, tem apenas este e a caixa de spam está vazia. Tente novamente, por favor! ou mande via contato que publico.

  1. Apesar de ter interesse na obra por causa da referência em “A Abadia de Northanger”, não estava tão empolgada: “Evelina”, que veio com a recomendação de ser de uma das autoras favoritas de Jane Austen, foi uma leitura muito cansativa (e que me fez compreender ainda mais o quão genial era Austen tanto na questão de desenvolvimento das personagens e condução do enredo, quanto na habilidade de edição do texto – ela foi pioneira mesmo) e arrastada. Mas quando vi as observações da Claire no Skoob tive muita vontade de ler “Os mistérios de Udolpho”. Está na lista.

    Beijos, Raquel!

    P.S.: Já viu o vídeo que ela fez de “Pâmela”? Está ótimo!

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