Há ótimas entrevistas com Ivo Barroso no blog Gaveta do Ivo ( http://gavetadoivo.wordpress.com ), e por esse motivo, aqui no blog, será uma conversa quase informal sobre Jane Austen e suas traduções. A única pergunta pessoal que pretendia fazer era quando o poeta e tradutor descobriu seu gosto pelos livros. Mas ele já havia respondido essa pergunta em 2005 e inicia assim: Aos sete anos me apaixonei perdidamente pela leitura.
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Jane Austen em Português: Marianne diria que não vivemos sem poesia. Elinor certamente acrescentaria: nem sem traduções. A poesia ou ser poeta influencia as suas traduções?
Ivo Barroso: Creio que o fato de ser poeta facilita alguns entendimentos dos textos que traduz, principalmente se neles entra algo da arte poética como métrica, rima, estrofação, etc. Mas, no caso de Jane Austen, é preciso ser também até mesmo um charadista, como naquela passagem de Emma…
JAP: Quando iniciou a tradução de Razão e sentimento já havia lido algum livro de Jane Austen?
Ivo Barroso: Sim, Orgulho e Preconceito, na tradução de Lúcio Cardoso. Com Sense and Sensibility passei a ler no original também os outros livros dela.
JAP: Em Orgulho e preconceito, Elizabeth Bennet conjectura: “Pergunto-me quem foi o primeiro a descobrir a eficácia da poesia para afastar o amor” e Mr. Darcy comenta: “Acostumei-me a considerar a poesia como o alimento do amor”(1). O que o poeta Ivo Barroso diria sobre este pequeno diálogo?
Ivo Barroso: Parece-me que Mr. Darcy está apenas citando Shakespeare: “If music is the food of love, play on… etc (2)
JAP: A tradução de Razão e sentimento foi um pedido da editora ou uma sugestão sua? A primeira edição de sua tradução é de 1982 ou de alguma data anterior?
Ivo Barroso: A primeira edição foi mesmo a de 1982 para a Nova Fronteira, que fiz por indicação dos editores.
JAP: O senhor já nos presenteou com “A Razão de Jane Austen” e a cartinha para Paulo Francis, sobre a escolha do título em português. Houve mais algum detalhe interessante na tradução?
Ivo Barroso: Achei que o sistema inglês de designar a filha mais velha pelo nome de família (no caso, Miss Dashwood) e as irmãs mais novas apenas pelo primeiro nome (Miss Marianne, por ex.) podia às vezes confundir o leitor desavisado, daí eu ter várias vezes optado por usar apenas o nome facilmente identificável para nós. Mas isto não vale para todos os casos, é claro.
JAP: A tradução de Emma também foi uma indicação da editora? Sua tradução de 1996 foi a primeira tradução de Emma no Brasil?
Ivo Barroso: Emma foi sugestão minha e creio que a primeira no Brasil, mas não estou certo. (3)
JAP: Apesar de Orgulho e preconceito ser a obra mais amada pelo público, Emma é considerada a obra-prima de Jane Austen. Houve uma grande diferença no trabalho da tradução do primeiro para o segundo livro?
Ivo Barroso: Honestamente não me lembro ou não achei. Depois que se toma amor pelo estilo dela tudo flui com naturalidade.
JAP: Quando leio romances sempre tenho personagens prediletos. O tradutor também tem suas preferências?
Ivo Barroso: Por incrível que pareça, tive grande simpatia pelo Willoughby apesar de sua submissão ao dinheiro e quem não admira intensamente a hombridade de Brandon? Mas em Jane Austen todo é amorável, tudo é delicadeza e contensão.
JAP: O senhor escreveu o prefácio de Orgulho e preconceito e de Persuasão (no prelo), ambos traduzidos por Celina Portocarrero para a editora L&PM, o que o torna cada vez mais próximo da autora – se me permite, quase um Janeite! Já pensou em traduzir mais algum livro de Jane Austen?
Ivo Barroso: Cheguei a pensar em Persuasão, mas creio já não ter gás suficiente para essas aventuras.
Muito obrigada, poeta!
NOTAS
(1) tradução de Celina Portocarrero
(2) Noite de Reis (Tweltfh Night ), William Shakespeare
(3) Nesta edição de Razão e sentimento (José Olympio, 1944) tradução de Dinah Silveira de Queiroz consta como trabalho da tradutora um “Ema” de Jane Austen. Ao que tudo indica, se foi traduzido, não foi publicado.
MICROBIOGRAFIA
Ivo Barroso, tradutor, poeta, ensaísta e crítico literário, nasceu em Ervália, Minas Gerais, em 25 de dezembro de 1929. Estudou no Rio de Janeiro, onde formou-se em Direito e Letras. Residiu vários anos na Europa e atualmente está radicado no Rio de Janeiro.
ENTREVISTAS
A mais completa Tradução – Ivo Barroso, Mário Hélio
Ivo Barroso, um tradutor de Obras Completas, Andréia Guerini e Marie Hélène Catherine Torres
Jornal da Poesia – Ivo Barroso, Rodrigo de Souza Leão
OBRA
Nau dos náufragos (mencionada na entrevista)
Visitações de Alcipe (mencionada na entrevista)
Caixinha de música
A caça virtual e outros poemas
ALGUMAS TRADUÇÕES
Jane Austen, Razão e sentimento & Emma
André Malraux, A condição humana
Arthur Rimbaud, obra completa
Ítalo Calvino (vários)
T. S. Eliot, (teatro completo)
William Shakespeare, 42 Sonetos
(bibliografia mais detalhada no não gosto de plágio)
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uma preciosidade essa entrevista, parabéns!
Denise,
uma preciosidade, deveras! muito obrigada
Que entrevista deliciosa de se ler. Tanto as perguntas quanto as respostas.
Gostei especialmente da resposta do sr. Ivo Barroso em relação ao detalhe das designações de Elinor e Marianne. Muito interessante.
Parabéns, Raquel.
Júnior,
as designações são de suma importância ou podemos nos perder na leitura. Obirgada!
Raquel, parabéns, fiz um link para a entrevista no meu blog também. Achei super interessante o fato de que ele gostou de Willoughby. É um personagem tão de carne e osso! Não sei se você já fez algo assim, mas que tal fazer uma enquete para saber quem seria o mais querido dos cretinos (ou cretinas) nos livros de Jane Austen? Fica a sugestão.
Marcia.
Marcia,
obrigada. Willoughby é bastante simpático. Não se esqueça que ele era capaz de dançar até às da manhã e e às oito estar pronto para caçar!
Sugestão anotada.
Muito bom esse bate-papo, o Sr. Ivo como sempre um poço de sabedoria e simpatia.
Cynthia,
como disse Denise, esta entrevista é uma preciosidade!
Sou conterrâneo do Dr.Ivo Barroso e ao ouvir falar meu tio (Carlindo) seu contemporâneo, foi que aprendi a tomar gosto pela poesia. Escrevi e ainda rabisco alguns versos. Hoje moro em Feira de Santana-Ba, e sou também advogado, militante. E, um grande saudosista de minha querida Ervália-MG.
Meu grande desejo e sonho e conhecer pessoalmente, o nosso ilustre conterrâneo.
Abraços a todos.
Paulo Toledo
Paulo Henrique
seja bem-vindo ao Jane Austen em Português!