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As razões da tradução sobre Sense and Sensibility que no Brasil, foi traduzido como Razão e sentimento por Ivo Barroso e Dinah Silveira de Queiroz, e como Razão e sensibilidade por Therezinha Monteiro Deutsch e também por quem fez a legendagem do filme de 1995*.

Antes de compartilhar com vocês esta cartinha, que recebi para o acervo do Jane Austen em Português, sugiro a leitura de três posts sobre o assunto: tradução, título e notas do Paulo Francis.

Obrigada, senhor Ivo. É um privilégio saber as razões e detalhes de uma tradução.

Caro Francis,

Como sabe, no Brasil, ao contrário da Inglaterra, Pride and Prejudice saiu antes de Sense and Sensibility. O primeiro foi traduzido por Lúcio Cardoso com o título (literal) de “Orgulho e Preconceito”, de grande força de expressão, que logo se tornaria entre nós uma característica marcante da obra de Jane Austen. Na verdade, esse título (dicotômico e aliterativo) foi escolhido por ela em função do primeiro, que tinha (em inglês) essas determinantes. Quando traduzi Sense and Sensibility, por estar o primeiro título decisivamente firmado entre nós, optei por usar uma fórmula semelhante, que expressasse o sentido do original, e cheguei a “Razão e Sentimento”. Essa dicotomia me pareceu mais importante do que a aliteração, por vários motivos. Para começo: a palavra sense em inglês significa “razão”, “bom senso” e não poderia ser traduzida simplesmente por senso; sensibility não tinha para a autora o sentido atual da nossa palavra sensibilidade (delicadeza de sentimentos, qualidade da pessoa sensível), mas designava simplesmente uma pessoa de sentimentos, capaz de sentir, daí eu ter achado que “Razão e Sentimento” exprimisse a dicotomia entre uma pessoa que age racionalmente e outra que age emocionalmente. Eis por que não tentei nada no estilo senso e sensibilidade, ou (quebrando a aliteração inicial) bom senso e sensibilidade, e preferi simplesmente a dicotomia já consagrada, daí o “Razão e Sentimento”.

Com um abraço do

Ivo Barroso


* Procurei na capa do DVD e não encontrei crédito da tradução das legendas.

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8 comentários

  1. Que bom saber disso. Eu tenho essa edição de Razão e Sentimento da Nova Fronteira e tb estranhei a tradução do título, mas agora a escolha me parece coerente.
    Agora eu achei extremamente desrespeitoso Paulo Francis chamar o tradutor de “idiota”, foi muita gentileza e humildade o Ivo Barroso dar satisfações sobre a sua tradução para um texto que foi escrito nesse tom.

    1. Cynthia,

      a nota do Francis refere-se a tradução do título para o filme de 95: “Razão e Sensibilidade”. A tradução de Ivo Barroso para o título do livro é “Razão e sentimento”.

      O Paulo Francis era engraçado mas um bocado destemperado. Gostava muito de Jane como diz nesta entrevista feita por Thales Guaracy para revista Exame Vip em 1996. Perguntado do que gostava de fazer em Nova York e se ia ao teatro, respondeu,

      Muito. Sou uma pessoa de gosto católico: música, balé, pintura. Agora tem no Moma uma exposição de 160 quadros do Mondrian. Já a vi três vezes. E você aqui tem todos os museus, é um paraíso. Tem o Citi Ballet, que é o balé do Balanshin, outra maravilha. Eu não posso ver tudo (por causa do dinheiro), então passei minhas três últimas noites vendo na televisão Orgulho e Preconceito, minissérie baseada no romance da Jane Austen, uma maravilha. Cinema e televisão nesta cidade chamam-se Jane Austen, que morreu em 1817. Os filmes baseados em histórias delas hoje são o maior sucesso, estão mais quentes que o Quentin Tarantino. As pessoas aqui lêem muito mais os “scripts” dela: Razão e sensibilidade, Emma, que tem três versões diferentes.

      Acredito que algumas vezes já o provocavam para ver o que ele ia dizer! Li no O Indivíduo

      Francis era um sujeito divertido que podia cantar “Chiquita Bacana” com Nelson Motta com a maior cara do pau, mas a citação que sempre me lembrei foi quando ele criticou o filme “Razão e Sensibilidade”, com Emma Thompson, baseado no clássico de Jane Austen. Fã da escritora inglesa, Francis deu uma bronca em Caio Blinder e Lucas Mendes ao ouvir deles que Austen era boba e ingênua por escrever romances sobre moças e moços apaixonados, e seus amores não correspondidos. “Vocês são uma bestas!”, ele resmungou com um brado, “Não há dor mais cruel e profunda que a do amor em vão”.

  2. que fantástico! de fato vc está criando o maior arquivo da história da difusão e recepção de austen no brasil, coisas que ninguém conhecia.
    excelente e incrível que vc consiga ir montando todo o mosaico, tiro o chapéu!

    1. Denise,

      muito obrigada! É um trabalho amador mas feito com carinho e com presentes valiosos como este que recebi do senhor Ivo.

  3. Nossa, como estou aprendendo com a leitura de seu site, Raquel. Sempre admirei Paulo Francis e, sinceramente, não sabia que ele era fã de Miss Austen. ótimo resgate da história do nosso jornalista 🙂

    1. Paula,
      pelo que se pode apurar era um Janeite de primeira e um bocado nervoso! Imagino os horrores que ele não diria das adaptações de agora…

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