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Tenho que escrever um texto sobre minha leitura d’Abadia de Northanger para o Chá e me fiz a seguinte pergunta: Isabella Thorpe é uma vilã? A partir desta interrogação estive pensando nas vilãs de Jane Austen, se é que podemos chamá-las assim. Falo aqui somente das personagens jovens.

Em Orgulho e Preconceito temos a senhorita Bingley, que mais me parece uma enciumada do que uma vilã propriamente dita. E claro, temos Lydia, mas esta é só uma estabanada.

Jane Austen deu ótimos diálogos para Mary Crawford em Masnfield Park e a não ser por pequenas manobras para ajudar o irmão, não me parece que tenha feito nada de tão grave. Maria Bertram é apenas menos maluqueta do que Lydia Bennet!

Emma é um caso a parte, ela própria parece uma pequena vilã com suas pequenas vaidades e o que ao longo do livro vamos percebendo que não é verdade. A “cara sposa”, senhora Elton, é engraçada demais para ser vilã!

Não consigo achar uma criatura realmente má em Persuasão. Nem mesmo a senhora Clay que no final da trama parece estar de conluio com o senhor Elliot. São todos tão comuns, egoístas e tolos… Tão parecidos conosco no dia-a-dia!

Deixei Razão e sentimento para o final pois considero Lucy Steel a vilã mais acabada de Jane. Dissimulada e desprezível até a última página, quando já não era mais necessário pois já havia conseguido bem mais do que contava dos Ferrars.

Voltando para a Abadia. Em Isabella vemos uma menina que procurava um casamento – o mais vantajoso possível. Não esqueçam, Jane Austen não é romântica – todas suas heroínas procuravam um casamento, senão com um homem rico pelo menos com um futuro economicamente estável. Pois bem, Isabella já havia achado em James Morland, colega de seu irmão John, um casamento razoável dado o seu pequeno dote. Quando conheceu Catherine, ficou sinceramente encantada com a coincidência e mesmo sendo quatro anos mais velha me parece tão infantil como a futura cunhada. Suas exclamações como “querida criatura” e outras tantas era uma forma de impressionar a nova amiga. Mas aí aconteceu a paixão. E quando o consentimento do pai de James chegou ela já estava enamorada do capitão Tilney. Em seu íntimo ela sabia que não daria certo, tanto que manteve o compromisso com James. E no final acontece o que era previsível. Lamentei sinceramente pela perda da amizade das duas, que me parecia promissora. A última carta é patética e vale um tratado.  Ainda escreverei mais sobre Isabella Thorpe.

Namoradeira e tola, não resta dúvida. Vilã, não creio.  Com a palavra, vocês, leitoras de Jane Austen.

amigas

Capturei esta cena de Northanger Abbey 2007, quando Isabella (Carey Mulligan) e Catehrine (Felicity Jones) partem em “fuga-perseguição” de “dois odiosos rapazes”! (trad. Lêdo Ivo)

No Jane Austen Today, tem fotos lindas dessa atriz tão promissora, Carey Mulligan. Como comentei no post, Miss Mulligan fez-me amar Bella Thorpe. Ela também fez Kitty em Orgulho e preconceito, 2005.

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12 comentários

  1. Olha só, Raquel, minha última leitura foi justamente “A abadia de Northanger”! Acho que Jane Austen foi precursora do realismo, por isso suas personagens são tão humanas, acho que nem Isabella Thorpe é vilã. Não há maniqueísmo na obra de Miss Austen… Outra coisa que me chamou a atenção em Northanger: a narratora ‘conversa’ com o leitor! E o que mais gostei, a crítica a leituras de livros da moda, no caso a literatura gótica. Me fez lembrar de Cervantes e seu Dom Quixote, e Flaubert e sua Emma Bovary!

    1. Paula,
      adoro essas coincidências! Sim, Jane tinha uma visão nítida das pessoas.

  2. OI Raquel!
    Concordo com você: as vilãs de Austen,não são propriamente tais. Quando analisamos os textos e as situações vemos que são tão comuns como as pessoas que conhecemos,ou até com nós mesmos. Isso só comprova a genialidade de Austen. Cá entre nós ,quem eu acho uma verdadeira vilã é a Lady Catherine de Bourgh. Imagine querer separar nossos queridos Mr. Darcy e Lizzy!!!
    rsrsrs

  3. Ah! Eu não suporto a Isabella! Não porque eu a ache uma vilã, mas pelos simples fato de que a considero falsa em todas suas relações.
    Sem contar as artimanhas que montava pra ficar com o James, e pra isso precisava da companhia de Catherine,mesmo sabendo que ela estava apaixonada pelo Tilney e queria estar com ele.
    É, vilã ela não é. Mas eu não gosto mesmo dela.

  4. Penso que a Lucy Steel buscava o mesmo que a Isabela, um casamento vantajoso, e quando Edward não pode mais oferecer isso a ela, simplesmente voltou-se para irmao dele, talvez ela até gostasse dele como a Isabela parecia gostar do Morland, mas ter de esperar e ter tão pouca renda foi frustante pra ambas e as moças que decidiram buscar um casamento “melhor”. Felizmente a Lucy Steel obteve exito e ainda conseguiu a boa opiniao da sogra, definitivamente eu nao a consideraria uma vilã, mas bem esperta. Quanto a Isabela…Eu nao lamento o fim da amizade de Catherine e Isabela,esta me pareceu sempre tão insípida que dificilmente uma amizade com ela trouxesse algo de proveitoso a Catherine.

    1. Nique
      Lucy certamente buscava um casamento vantajoso como todas e nesse aspecto não há recriminações, mas o modo como agiu com Edward e Elinor depois de ter conseguido seu intento, na minha opinião, mostra seu caráter vil. Não foi vingança pois Edward foi elegante alem da conta e Elinor sempre a tratou com civilidade, apenas mesquinharia, por prazer. Agora lendo para digitar, percebo que a própria Jane a chamou assim:

      Elinor percebera claramente que Lucy tentara maliciosamente enganá-la no recado trazido por Thomas; e o próprio Edward, agora completamente esclarecido sobre as manifestações de seu caráter, não tinha pejo de acreditá-la capaz das maiores vilanias por sua natureza caprichosa. (final do capítulo 49 – trad. Ivo Barroso)

  5. Raquel, me tira uma dúvida, please!

    Eu penso como a Paula, Jane era mesmo muito realista ao tratar da natureza humanda, mas às vezes fico na dúvida quanto ao romantismo por algumas passagens em seus livros, como a carta que o capitão Wentworth escreveu para a Anne. Seria romantismo ou é pelo fato dela descrever mesmo a natureza humana, tipo, como as pessoas se comportam em tais situações e por isso ele escreveu a carta.

    Eh que vi seu comentario nesse post e por isso resolvi perguntar.

    Abraços!

    1. Vanessa,
      acredito que Jane retratava algum romantismo para caracterizar melhor a personagem. No caso da carta do capitão considero uma carta de amor, passional. Eu, particularmente, separo amor e romantismo. Mas é tudo muito relativo, ao fim e ao cabo, a leitura é a nossa visão.

  6. E outra coisa, sim, concordo com vc, todas procuravam um casamento, com um homem que pudesse oferecer uma boa condição de vida, mas por exemplo, Marianne poderia ter aceitado logo em princípio o coronel brandon e não aceitou porque amava outro. Lizzie só aceitou se casar com Mr Darcy quando descobriu que o amava. Então a minha dúvida eh a mesma da pergunta acima, isso é apenas o fato dela retratar a natureza humana ou ela seria um pouco romântica sim?

    1. Vanessa,
      Jane não era romântica mas acreditava no amor. Fosse ele possível ou não. E aqui só consigo fazer minha leitura: a separação entre amor e romantismo.

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