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Esta resenha de Emma: a modern retelling, do escritor escocês Alexander McCall Smith, ganhei de presente de Natal do leitor Luiz Henrique para compartilhar com vocês, leitores do Jane Austen em Português. Muito obrigada, meu caro!

Emma recontada

por Luiz Henrique Pereira

Emma: a modern retelling faz parte do The Austen Project, em que seis escritores contemporâneos modernizam os romances de Jane Austen. Os dois outros títulos já lançados (tudo apenas em inglês por enquanto) são Razão e Sentimento (Joanna Trollope) e A Abadia de Northanger (Val McDermid). O próximo lançamento previsto é Orgulho e Preconceito (Curtis Sittenfeld). O autor da versão moderna para Emma é Alexander McCall Smith, escritor escocês extremamente prolífico, responsável por várias séries, uma das quais encontrou espaço definitivo em minhas estantes físicas ou virtuais: “Agência N° 1 de Mulheres Detetives”, passada na África e com personagens que acabam tornando−se tão reais e próximos do leitor que por vezes em meio a uma digressão frente a uma xícara de café em uma livraria à tarde, súbito nos perguntamos o que será que eles andam fazendo na distante Botswana naquele exato momento. Infelizmente a série, que já tem 13 ou 14 volumes (de títulos como Escola de Datilografia Kalahari para Homens ou Sapatos Azuis e Felicidade), só teve os três primeiros traduzidos e lançados pela Companhia das Letras tempos atrás. Esses três ainda se encontram na Estante Virtual e são garantia de uma leitura muito agradável.

Voltando a Jane Austen. A adaptação de Emma por McCall Smith enfrenta bravamente a mudança dos tempos, mostrando por exemplo um John Knightley tatuado e fotógrafo de revistas de moda a conquistar as graças de Isabella Woodhouse a bordo de uma motocicleta Ducati, para tremenda aflição de Mr. Woodhouse (apesar do capacete extra). Mr. Woodhouse que continua hipocondríaco de sempre e agora acompanha meticulosamente as últimas descobertas da ciência sobre bons hábitos nutricionais, além de ser vegetariano e leitor de The Economist, cujos artigos alimentam suas palestras regulares com George Knigthley.
A trama do livro é quase integralmente a mesma do original, a não ser por leves alterações, inclusive uma no modo de definição dos happy endings e acrescentando mais um surpreendente, que não cabe contar aqui para evitar spoilers.

O romance segue uma cronologia linear, tocando brevemente nas circunstâncias do nascimento de Mr. Woodhouse, em plena Crise dos Mísseis de Cuba (1963), passando pela infância das órfãs de mãe Woodhouse, a chegada de Mrs Taylor para ser sua governanta, até o casamento de Isabela e a volta de Emma da universidade (em Bath!). Emma se formou em design de interiores e volta para um verão em Highbury antes de iniciar seus trabalhos, ocasião em que, na falta de outra distração, decide se dedicar a induzir seus conhecidos a determinadas atitudes e escolhas, “para torná−los mais felizes”, com as consequências que sabemos todos.

Jane Austen dizia que Emma era uma heroína de quem nenhum leitor gostaria, exceto a própria Jane. A Emma de Alexander McCall Smith é talvez até menos “gostável” do que a de Jane, e sua transformação moral é sem dúvida descrita com menos encanto que no original, mas o personagem se sustenta.

O enredo do romance se concentra no tal verão, com direito a piquenique, retrato de Harriet Smith e a misteriosa Jane Fairfax. Só não tem ciganos. As modernizações necessárias quanto a situações como a natureza bastarda de Harriet Smith são feitas com elegância e o texto está cheio de histórias paralelas sobre os personagens. É um tributo delicioso a Jane Austen, e imagino que uma leitura perfeita para ser saboreada com cream violets, uma espécie de bombons com recheio sabor de violetas, de que nunca tinha ouvido falar e que têm muito prestígio junto a Miss Bates.

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2 comentários

  1. Caramba, que legal!!!! Adoro essas releituras de obras que gosto, acho bom ver as histórias de outros jeitos, mas mantendo o importante. Espero achar esse e os outros livros pra ler, tenho certeza que vou adorar!!!

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