Ontem, contei para vocês que a editora L&PM disponibilizou um trecho de Orgulho e preconceito em arquivo PDF para termos um gostinho do livro e conseguirmos esperar até janeiro sem morrer de ansiedade.
Como às vezes temos pouco tempo e paciência com arquivos, computadores e adjacências, pedi autorização à editora para publicar os capítulos neste post. Muito obrigada, L&PM.
Com vocês os três primeiros capítulos de Orgulho e preconceito da L&PM Editores com tradução de Celina Portocarrero que será lançado no início de 2010.
CAPÍTULO 1
É verdade universalmente reconhecida que um homem solteiro em posse de boa fortuna deve estar necessitado de esposa.
Por menos conhecidos que possam ser os sentimentos ou pontos de vista de tal homem em seus primeiros contatos com um novo ambiente, essa verdade está tão enraizada nas mentes das famílias vizinhas que o recém-chegado é considerado propriedade de direito das moças do lugar.
– Meu caro sr. Bennet – disse-lhe a esposa um dia –, o senhor já soube que Netherfield Park foi afinal alugada?
O sr. Bennet respondeu que não.
– Pois foi – retrucou ela –, a sra. Long aqui esteve há pouco e me contou tudo a respeito.
O sr. Bennet não lhe deu resposta.
– O senhor não quer saber quem a alugou? – exclamou a mulher, impaciente.
– A senhora quer me dizer, e não tenho objeções quanto a ouvir.
Como convite, foi o bastante.
– Mas, meu caro, o senhor precisa saber, a sra. Long me disse que Netherfield foi alugada por um jovem de grande fortuna, do norte da Inglaterra; que ele veio na segunda-feira, numa pequena carruagem puxada por quatro cavalos, para ver o lugar, e ficou tão encantado que no mesmo instante fechou negócio com o sr. Morris; que ele deve se instalar antes da Festa de São Miguel, e que alguns criados são esperados na casa no final da próxima semana.
– Como ele se chama?
– Bingley.
– Casado ou solteiro?
– Oh! Solteiro, meu caro, com certeza! Um homem solteiro e de grande fortuna, quatro ou cinco mil libras por ano. Que ótimo para nossas meninas!
– Por quê? Como isso pode afetá-las?
– Meu caro sr. Bennet – respondeu a mulher –, como pode ser tão irritante! Deve saber que estou pensando em casá-lo com uma delas.
– É esta a intenção dele ao se instalar aqui?
– Intenção! Bobagem! Como pode dizer uma coisa dessas? Mas é muito provável que ele possa se apaixonar por uma delas, portanto, o senhor deve ir visitá-lo assim que chegar.
– Não vejo necessidade. A senhora e as meninas podem ir, ou pode mandá-las sozinhas, o que talvez seja ainda melhor, já que, sendo tão bonita quanto elas, o sr. Bingley poderia achá-la a melhor de todas.
– Está me lisonjeando, meu caro. Sem dúvida eu tive minha cota de beleza, mas não tenho pretensões de ser excepcional hoje em dia. Quando uma mulher tem cinco filhas adultas, deveria desistir de pensar em sua própria beleza.
– Em tais casos, a mulher nem sempre tem muita beleza na qual pensar.
– Mas, meu caro, o senhor realmente precisa visitar o sr. Bingley quando ele vier a ser nosso vizinho.
– Isso é mais do que sou capaz de prometer, posso lhe garantir.
– Mas pense em suas filhas. Reflita um pouco sobre a situação que isso representaria para uma delas. Sir William e Lady Lucas estão decididos a ir exatamente pela mesma razão, pois em geral, como bem sabe, os dois não visitam recém-chegados. Precisa mesmo ir, pois será impossível nós o visitarmos se o senhor não o fizer.
– A senhora está sendo escrupulosa demais, sem dúvida. Acredito que o sr. Bingley ficará muito contente em vê-la; e vou mandar-lhe algumas linhas assegurando meu cordial consentimento para que se case com qualquer de nossas filhas, à sua escolha, embora deva incluir uma recomendação a respeito de minha pequena Lizzy.
– Desejo que não faça tal coisa. Lizzy não é em absoluto melhor do que as outras; e tenho certeza de que ela não tem a metade da beleza de Jane, nem a metade do bom humor de Lydia. Mas é sempre a ela que o senhor dá preferência.
– Nenhuma delas tem muito que as recomende – retrucou ele –, são todas bobas e ignorantes como as outras moças, mas Lizzy tem um pouco mais de perspicácia do que as irmãs.
– Sr. Bennet, como pode dizer tais coisas a respeito de suas próprias filhas? O senhor sente prazer em implicar comigo. Não tem qualquer compaixão pelos meus pobres nervos.
– Engano seu, minha cara. Tenho o maior respeito pelos seus nervos. Eles são meus velhos amigos. Pelo menos nos últimos vinte anos, ouço-a, com todo o respeito, mencioná-los.
– Ah, o senhor não sabe como sofro.
– Mas espero que se recupere e viva para ver muitos rapazes com renda anual de quatro mil libras chegarem à vizinhança.
– Não nos servirá de muita coisa se vinte deles chegarem, uma vez que o senhor não irá visitá-los.
– Pode ter certeza, minha cara, de que, quando houver vinte deles, visitarei todos.
O sr. Bennet era uma mistura tão singular de rapidez de raciocínio, humor sarcástico, retraimento e caprichos, que a experiência de 23 anos não fora o bastante para que a esposa lhe compreendesse o caráter. A mente dela era de interpretação menos difícil. Era mulher de inteligência medíocre, poucos conhecimentos e temperamento instável. Quando contrariada, fazia-se de nervosa. O objetivo de sua vida era casar as filhas; animava-se com visitas e novidades.CAPÍTULO 2
O sr. Bennet foi um dos primeiros a se apresentar ao sr. Bingley. Sempre pretendera visitá-lo, embora continuasse, até o fim, a garantir à esposa que não o faria; e até a noite posterior à visita consumada ela não tinha conhecimento do fato. Tudo foi então revelado da seguinte maneira. Ao observar sua segunda filha ocupada em enfeitar um chapéu, ele de repente se dirigiu a ela:
– Espero que o sr. Bingley goste, Lizzy.
– Não temos como saber do quê o sr. Bingley gosta – disse a mãe da moça, ressentida –, já que não vamos visitá-lo.
– Mas a senhora se esquece, mamãe – disse Elizabeth –, que o encontraremos em festas e que a sra. Long prometeu apresentá-lo.
– Não acredito que a sra. Long vá fazer tal coisa. Ela mesma tem duas sobrinhas. É uma mulher egoísta e hipócrita e não a tenho em boa conta.
– Nem eu – disse o sr. Bennet –, e fico contente por saber que a senhora não depende de seus serviços.
A sra. Bennet não se dignou a dar qualquer resposta, mas, incapaz de se conter, começou a repreender uma de suas filhas.
– Não continue tossindo assim, Kitty, pelo amor de Deus! Tenha um pouco de pena dos meus nervos. Você os faz em pedaços.
– Kitty não é discreta em sua tosse – disse o pai –, não sabe a hora certa de tossir.
– Não tusso para me divertir – retrucou Kitty irritada. – Quando será seu próximo baile, Lizzy?
– Dentro de quinze dias, a contar de amanhã.
– Oh, é isso mesmo – exclamou a mãe –, e a sra. Long não estará de volta antes da véspera, portanto será impossível que ela o apresente, pois ela mesma não o terá conhecido.
– Então, minha cara, a senhora poderá fazer melhor do que a sua amiga e apresentar a ela o sr. Bingley.
– Impossível, sr. Bennet, impossível, uma vez que eu mesma não o conheço. Como o senhor pode ser tão irritante?
– Respeito sua prudência. Um conhecimento de quinze dias é sem dúvida muito recente. Não se pode saber como é na verdade um homem ao final de uma quinzena. Mas se nós não nos aventurarmos, alguém mais o fará; e, afinal de contas, a sra. Long e suas filhas merecem uma oportunidade; sendo assim, e como ela considerará isso um ato de gentileza, eu mesmo me encarregarei de fazê-lo, caso a senhora decline de suas funções.
As moças encararam o pai. A sra. Bennet disse apenas:
– Bobagens, bobagens!
– Que sentido pode ter tal enfática observação? – exclamou ele. – A senhora considera bobagens as formalidades de apresentação e o desgaste que envolvem? Não posso concordar consigo neste ponto. O que me diz, Mary? Porque bem sei que você é uma jovem de reflexões profundas, que lê bons livros e faz resumos.
Mary quis dizer algo sensato, mas não soube como.
– Enquanto Mary ajusta suas ideias – continuou ele –, voltemos ao sr. Bingley.
– Não aguento mais o sr. Bingley – exclamou sua esposa.
– Lamento ouvir isso; mas por que não me disse antes? Se eu soubesse, com certeza não teria ido esta manhã à casa dele. É muita falta de sorte; mas como já fiz a visita, não podemos agora nos furtar a essa relação.
A perplexidade das damas era exatamente o que ele queria. Talvez mais do que todas a da sra. Bennet, ainda que, depois de acalmado o tumulto de alegria inicial, ela começasse a declarar que era isso o que esperara todo o tempo.
– Como foi gentil de sua parte, meu caro sr. Bennet! Mas eu sabia que conseguiria convencê-lo. Tinha certeza de que o amor por suas filhas era muito grande para que desprezasse tais relações. Ah! Como estou satisfeita! E também, que peça formidável nos pregou, tendo ido lá esta manhã e não nos dizendo uma palavra a respeito até agora.
– Agora, Kitty, pode tossir o quanto quiser – disse o sr. Bennet e, enquanto falava, saiu da sala, cansado dos arroubos da esposa.
– Que pai maravilhoso vocês têm, meninas! – disse ela, quando a porta se fechou. – Não sei como poderão compensá-lo algum dia por sua bondade. Nem eu, aliás. A esta altura de nossas vidas não é assim tão agradável, posso afirmar-lhes, travar novas relações todos os dias, mas, por vocês, faríamos qualquer coisa. Lydia, minha querida, embora você seja a mais nova, é bem provável que o sr. Bingley dance com você no próximo baile.
– Oh! – disse Lydia resoluta. – Não tenho medo, pois apesar de ser a mais moça, sou a mais alta.
O resto da noite foi gasto em conjeturas sobre quando ele retribuiria a visita do sr. Bennet e decidindo quando deveriam convidá-lo para jantar.CAPÍTULO 3
Entretanto, por mais que a sra. Bennet, com o auxílio de suas cinco filhas, tentasse descobrir a respeito, nada foi suficiente para arrancar do marido uma descrição satisfatória do sr. Bingley. Elas o atacaram de diversas maneiras – com perguntas indiscretas, teorias engenhosas e pressuposições longínquas; mas ele se esquivou à lábia de todas, e elas se viram afinal obrigadas a aceitar os préstimos de segunda mão de sua vizinha, Lady Lucas. Seu relatório foi altamente favorável. Sir William ficara encantado com o rapaz. Era bastante jovem, muitíssimo bonito, agradável ao extremo e, para culminar, pretendia comparecer à próxima festa com um grande grupo de amigos. Nada poderia ser mais encantador! Gostar de dançar era um passo certo na direção de se apaixonar, e grandes esperanças foram acalentadas em relação ao coração do sr. Bingley.
– Se eu puder ao menos ver uma de minhas filhas instalada e feliz em Netherfield – disse a sra. Bennet ao marido – e todas as outras igualmente bem casadas, nada mais terei a desejar.
Em poucos dias, o sr. Bingley retribuiu a visita do sr. Bennet e passou com ele dez minutos na biblioteca. Tivera esperanças de que lhe fosse concedida a visão das jovens, de cuja beleza muito ouvira falar, mas viu apenas o pai. As moças foram de certa forma mais felizes, pois tiveram a vantagem de vislumbrar, por uma janela no andar superior, que ele usava um casaco azul e montava um cavalo negro.
Um convite para jantar foi logo depois enviado, e a sra. Bennet já havia planejado as compras que fariam jus às suas qualidades de boa dona de casa quando chegou uma resposta que adiou tudo. O sr. Bingley era obrigado a ir à cidade no dia seguinte e, em consequência, não teria condições de aceitar a honra do convite etc. A sra. Bennet ficou um tanto desconcertada. Não conseguia imaginar que negócios ele poderia ter na cidade tão pouco tempo depois de sua chegada a Hertfordshire e começou a recear que ele pudesse estar sempre se deslocando de um lugar para outro e nunca se instalasse em Netherfield como deveria. Lady Lucas dissipou-lhe um pouco os temores apresentando a possibilidade de ele ter ido a Londres apenas para convidar um grande número de amigos para o baile; e logo se seguiram rumores de que o sr. Bingley deveria trazer consigo doze damas e sete cavalheiros para a festa. As moças lamentaram um número tão grande de damas, mas consolaram-se na véspera do baile ao ouvir que, em vez de doze, ele trouxera apenas seis de Londres – suas cinco irmãs e uma prima. E quando o grupo entrou no salão somava apenas cinco pessoas – o sr. Bingley, suas duas irmãs, o marido da mais velha e outro rapaz.
O sr. Bingley era bonito e tinha ares de cavalheiro, seu rosto era agradável e suas maneiras descontraídas e sem afetação. As irmãs eram mulheres belas, com aparência de indubitável elegância. O cunhado, o sr. Hurst, parecia apenas um cavalheiro comum, mas seu amigo, o sr. Darcy, logo chamou a atenção do salão pela figura alta e elegante, belos traços, ar nobre e pelo rumor, que circulou por toda parte cinco minutos após sua entrada, de que sua renda chegava a dez mil por ano. Os cavalheiros afirmaram ser ele um belo espécime de homem, as senhoras declararam que ele era muito mais bonito do que o sr. Bingley, e assim o sr. Darcy foi observado com muita admiração até a metade da noite, quando suas maneiras provocaram uma decepção que mudou o curso de sua popularidade, pois se descobriu que era orgulhoso, considerava-se superior aos demais e era incapaz de se sentir bem naquele ambiente. Nem mesmo os amplos domínios em Derbyshire poderiam compensar a expressão extremamente antipática e desagradável estampada em seu rosto; não era digno de comparação com o amigo.
O sr. Bingley logo travou relações com as principais pessoas no salão; era cheio de vida e extrovertido, dançou todas as danças, aborreceu-se ao ver o baile terminar tão cedo e falou em dar uma festa em Netherfield. Qualidades tão agradáveis falavam por si mesmas. Que contraste entre ele e o amigo! O sr. Darcy dançou apenas uma vez com a sra. Hurst e outra com a srta. Bingley, dispensou ser apresentado
a qualquer outra moça e passou o resto da noite andando pelo salão, vez ou outra falando com alguém de seu próprio grupo. Seu caráter estava definido. Ele era o mais orgulhoso, o mais desagradável homem do mundo, e todos esperavam que nunca mais aparecesse por ali. Entre as opiniões mais violentas a seu respeito estava a da sra. Bennet, cujo desagrado com seu comportamento em geral exacerbou-se a ponto de se transformar em ressentimento pessoal diante da atitude de desrespeito do rapaz para com uma de suas filhas.
Elizabeth Bennet fora obrigada, pela escassez de cavalheiros, a ficar sentada em duas danças, e, durante parte desse tempo, o sr. Darcy estivera de pé perto o suficiente para que ela ouvisse uma conversa entre ele e o sr. Bingley, que parou de dançar por alguns minutos a fim de insistir com o amigo para que participasse do baile.
– Vamos, Darcy – disse ele. – Preciso que dance. Detesto vê-lo parado aí sozinho dessa maneira. Faria muito melhor se dançasse.
– Com certeza não dançarei. Sabe o quanto detesto dançar, a não ser que conheça bem meu par. Numa festa como esta, seria insuportável. Suas irmãs estão comprometidas e não há qualquer outra mulher neste salão cuja companhia não fosse para mim um castigo.
– Eu não seria tão exigente assim – exclamou o sr. Bingley –, caramba! Palavra de honra, nunca conheci tantas moças agradáveis na vida como nesta noite, e você pode ver que há várias excepcionalmente atraentes.
– Você está dançando com a única moça bonita do salão – disse o sr. Darcy, olhando para a mais velha das meninas Bennet.
– Ah! Ela é a criatura mais bela que já contemplei! Mas há uma de suas irmãs, sentada bem atrás de você, que é muito bonita e, atrevo-me a dizer, muito agradável. Deixe-me pedir à minha parceira de dança que a apresente a você.
– De quem você está falando? – e dando meia-volta olhou por um instante para Elizabeth, até que, atraindo-lhe o olhar, desviou o seu e disse com frieza: – Ela é aceitável, mas não é bonita o bastante para me tentar, não estou com disposição para dar atenção a mocinhas deixadas de lado pelos outros homens. Você faria melhor voltando para sua dama e aproveitando-lhe os sorrisos, porque está perdendo tempo comigo.
O sr. Bingley seguiu o conselho. O sr. Darcy saiu de onde estava, e Elizabeth ficou com sentimentos não muito cordiais em relação a ele. Contou a história, entretanto, com muita graça, para as amigas, pois tinha um temperamento vivo e brincalhão e se deliciava com tudo o que fosse ridículo.
A noite revelou-se agradável para toda a família. A sra. Bennet viu a filha mais velha ser muito admirada pelo grupo de Netherfield. O sr. Bingley dançou com ela duas vezes e as irmãs dele trataram-na com amabilidade. Jane ficou tão satisfeita com isso quanto a mãe, ainda que de um jeito mais reservado. Elizabeth percebeu o prazer de Jane. Mary soube ter sido mencionada para a srta. Bingley como a moça mais prendada das vizinhanças, e Catherine e Lydia tiveram a sorte de nunca ficar sem par, o que, até onde haviam aprendido, era tudo com que se deveriam preocupar num baile. Voltaram, portanto, de bom humor para Longbourn, a aldeia em que viviam e da qual eram os habitantes mais ilustres. Encontraram o sr. Bennet ainda de pé. Com um livro nas mãos ele perdia a noção do tempo e, no presente momento, tinha uma boa cota de curiosidade em relação aos acontecimentos de uma noite que gerara tão esplêndidas expectativas. Chegara a acreditar que sua mulher ficaria decepcionada com o forasteiro, mas logo descobriu que ouviria uma história bem diferente.
– Oh! Meu caro sr. Bennet – dizia ela ao entrar na sala –, tivemos uma noite das mais encantadoras, um baile dos mais excepcionais. Gostaria que o senhor tivesse ido. Jane foi tão admirada, nada poderia ser melhor. Todos comentaram como ela estava bem, e o sr. Bingley achou-a muito bonita e dançou com ela duas vezes! Pense nisso, meu caro, ele dançou duas vezes com ela! E ela foi a única criatura no salão que ele convidou para dançar uma segunda vez. A primeira que ele convidou foi a srta. Lucas. Fiquei tão mortificada ao vê-lo diante dela! Mas, de qualquer forma, ele de modo algum a admirou; na verdade, ninguém consegue admirá-la, o senhor sabe, e ele pareceu muito impressionado por Jane quando a viu dançar. Então perguntou quem era ela e foi apresentado e convidou-a para as duas danças seguintes. Depois dançou as duas terceiras com a srta. King e as duas quartas com Maria Lucas e as duas quintas com Jane outra vez e as duas sextas com Lizzy, e o boulanger*…
– Se ele tivesse tido alguma piedade de mim – exclamou o marido, impaciente –, não teria dançado nem a metade! Pelo amor de Deus, não enumere mais seus pares. Ah, se ele tivesse torcido o tornozelo na primeira dança!
– Oh! Meu caro, estou muito satisfeita com ele. É tão absurdamente bonito! E suas irmãs são encantadoras. Nunca em minha vida vi algo mais elegante do que seus vestidos. É bem provável que a renda do traje da sra. Hurst…
Foi outra vez interrompida. O sr. Bennet protestava contra qualquer descrição de enfeites. Viu-se, portanto, obrigada a dar outro rumo à conversa e relatou, com muita amargura e algum exagero, a chocante rudeza do sr. Darcy.
– Mas posso assegurar – acrescentou – que Lizzy não perdeu muito por não cair no gosto dele, porque ele é um homem horrível, muito desagradável, a quem não vale a pena contentar. Tão arrogante e tão cheio de si que não há como suportá-lo! Andava para lá, andava para cá, achando-se muito importante! Não era bonita o bastante para dançar com ele! Gostaria que o senhor estivesse lá, meu caro, para lhe dar uma de suas respostas atravessadas. Detesto mesmo esse homem.* Dança de salão em que os pares se movimentavam em círculo, trocando de parceiros até que todos tenham dançado entre si. (N.T.)
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É ótimo saber que vamos ter uma tradução digna das obras de Jane Austen em relação à honestidade e espero que ela corresponda às nossas expectativas.
Porém, achei que a tradução de uum trecho do capítulo 3, quando Mr. Bingley chama Darcy para dançar(logo abaixo) ficou meio estranha.
“I would not be so fastidious as you are,” cried Mr. Bingley, “for a kingdom! Upon my honour, I never met with so many pleasant girls in my life as I have this evening; and there are several of them you see uncommonly pretty.”
Tradução: “– Eu não seria tão exigente assim – exclamou o sr. Bingley –, caramba! Palavra de honra, nunca conheci tantas moças agradáveis na vida como nesta noite, e você pode ver que há várias excepcionalmente atraentes.”
A escolha da palavra “caramba” como substituta por “for a kingdom” foi anacrônica, não? Essa expressão é atual demais e eu acho que não deveria ser usada como parte do vocabulário do século XVII/XVIII (apesar de não ter conhecimentos profundos de inglês) e poderia ser substituida por outra menos informal, como “por Deus”, algo desse tipo.
Cynthia,
ainda não li (acredita?) os capítulos com calma, mas Elaine outra leitora já havia comentado comigo sobre essa palavra. De fato “caramba” soa moderna demais, apesar de expressar exatamente o que ele quis dizer.
Ops, séculos XVIII/XIX.
Até o momento, a tradução me pareceu bem adequada. Um pouco em dúvida com o “caramba” que ela tascou na boca do sr. Bingley (jamais o imaginaria falando “caramba”!), mas nada que comprometa.
Aguardo ansiosa o lançamento.
Opa, vejo que não fui a única a estranhar o “caramba”…
Creio que uma tradução mais apropriada seria “Por Deus!”
Caramba, Elaine!
eu havia mencionado você!
Pois é, parece que o “caramba”, está nos fazendo dizer: caramba!
PS:Pensei em “Céus!”
raquel, parabéns uma vez mais por essa conquista maravilhosa. estou realmente entusiasmada! e no site da lpm, após a notícia do lançamento, linkaram o jane austen, mais do que merecido! fico muito feliz com o fato de que as editoras ouçam os leitores.
Gostei bastante da tradução, muito melhor que a da Martin Claret(que dizem ser plágio, aliás. Honestamente, não duvido). A única coisa que pegou foi o “caramba” mesmo haha ^^
Patrícia,
A da MC é plágio. Veja o post acima deste.
Não estou em defesa do Caramba!, mas apenas aventando a hipótese de ele não estar tão desenquadrado assim.
Fiquei curiosa e fui olhar no Houaiss. O primeiro registro da palavra “caramba” aparece em Frei Domingos Vieira, Grande Diccionario Portuguez ou Thesouro da Lingua Portugueza, editado no Porto em 1873.
E, também, ouço isso de pessoas bem mais velhas desde que me entendo por gente. Era expressão comum em nossa língua na primeira metade do século XX – é só fazer um levantamento, por exemplo, na literatura e em letras de músicas.
De qualquer maneira, aguardardemos os demais capítulos. Tenho certeza que a tradutora deu um tom uniforme a esse tipo de coisa no texto.
Leticia,
mesmo que não gostemos do “caramba”, ele expressa exatamente o que o brincalhão Bingley quis dizer. Uma espécie de “Poxa vida Darcy, larga de ser chato, meu!”. Tudo bem… viajei no paulistês…
Se o primeiro registro de “caramba” é de 1873, ainda assim é quase um bom século antes do sr. Bingley por os pés em Netherfield. Não adianta, encrenquei mesmo com o termo…
Caramba Elaine! como você esta encrenqueira, parece Mr. Darcy!
Sim, Elaine. É claro que essa não é uma tentativa de levar o “caramba” até o tempo de Jane. Mas as traduções que temos estão todas enquadradas nesse tempo.
E há, para livros editados hoje, uma necessária adaptação à nossa contemporaneidade. Creio até que ficaria impossível ler certas obras no linguajar original. Imagina, por exemplo, a Bíblia. Mas nem o Rei James se furtou a uma adaptaçãozinha de linguagem… E Hans Staden? (Outro dia li uma edição do século XVII em pdf no site da Biblioteca Mindlin. Foi dureza!)
Nenhuma tradução foge à marca do seu tempo. Para cada estranhamento há inúmeros outros casos de atualização que passam batido pelo simples fato de que estamos acostumados com eles.
Se você pegar um clássico editado no BR na década de 40, 50, p. ex., verá como a linguagem foi constrangedoramente adaptada, incluindo a praga de então: traduzir nomes próprios. Um horror pra gente, hoje, em 2009 (o que não tira o valor daquela edição…).
Sou meio avessa a essas atualizações, mas entendo serem um mal necessário.
E tem o quesito “intenção do tradutor”. Se os demais capítulos seguirem este clima, pode não ser do gosto, mas falha não é.
Há quanto tempo, Raquel! Minha Internet está me dando dores de cabeça!
Sobre a tradução, eu gostei bastante e assim como a Denise fico muito satisfeito de que a L&PM ouça os leitores. Também achei o “caramba” um pouco fora do contexto histórico e acredito que poderia ter sido facilmente substituído por outro termo mais adequado. Mesmo assim, Celina Portocarrero está de parabéns, pelo menos por esta prévia.
P.S.: O “caramba” foi tão falado neste post que já dava até pra virar tag (risos).
Júnior,
a internet às vezes resolve ter seus ataques… a minha tem dias de completa rebeldia!
O problema nos dias atuais é que as pessoas usam algumas palavras à exaustão e quando as vemos em contexto comum achamos estranho!
esse livro de d++++++++++++++++++…..
muito legal