web analytics

Depois de analisar todas as mães de Jane Austen cheguei a conclusão que a mais parecida com a minha mãe é senhora Morland do livro A abadia de Northanger. Sensata e prática. Nada de sentimentalismos mas sempre presente.

Embora às vezes não pareça, ser prática e firme é uma forma de amor, no caso maternal, que nos acompanhará a vida toda. Um luxo como diria Adélia Prado no seu poema “Ensinamento”.

A descrição da mãe de Catherine Morland é o que podemos chamar de universal. Tudo o que elas querem é nos ver bem sucedidos e felizes.

A senhora Morland era uma mulher de muito valor, e que desejava ver seus filhos tanto quanto possível bem sucedidos na vida. (p. 11)

Mas a medida que vamos conhecendo suas atitudes para com a filha percebemos que é muito liberal. Por exemplo, Catherine quis estudar piano por simples capricho e a mãe não se incomodou quando ela desistiu.

Estudou um ano e não quis continuar. A senhora Morland, que não se obstinava em forçar o talento dos filhos, permitiu que ela ficasse aí. (p.10)

Quando Catherine partiu para Bath, uma cidade conhecida por suas festas e certamente com alguns perigos para mocinhas desavisadas, a senhora Morland não se abalou e seus conselhos foram práticos. Jane Austen nos diz que a senhora Morland sabia muito pouco sobre os perigos de conviver com rapazes mal intencionados. Eu discordo. Acredito que a mãe de Catherine confiava plenamente na sólida e amorosa educação da família Morland e por esse motivo recomendou apenas o que seria novidade: os cuidados com a saúde e o uso correto do dinheiro.

“Eu lhe peço, Catherine, para, à noite, agasalhar bem o pescoço, e desejo que tenha sempre em dia a conta de tuas despesas. Eis um pequeno livro para isso.” (p. 13)

A volta de Catherine de sua grande viagem foi melancólica mas a senhora Morland estava pronta para reconfortar a filha,

A senhora Morland, que havia notado a palidez e os olhos abatidos da pobre viajante, serviu-lhe logo um chá reconfortante. (p. 164)

… mas sem lamentações mesmo depois de saber sobre a grosseria do general Tilney e dos perigos aos quais a filha foi exposta viajando sozinha na volta para casa e comenta:

Mas o fato é que talvez não haja nada para lamentar. É sempre bom que os jovens tenham oportunidade de mostrar seu espírito de iniciativa. (p. 165)

Catherine passou um tempo com a cabeça nas nuvens como era de se esperar depois das peripécias por Bath e pela Abadia de Northanger, mas a mãe logo percebeu e a trouxe para a realidade:

Há tempo para tudo, tempo para os bailes e as festas, tempo para o trabalho. Você teve um longo período de prazeres, é necessário agora esforçar-se para ser útil. (p. 169)

E quando Henry Tilney propôs casamento à nossa heroína a família ficou surpresa num primeiro momento mas acharam muito natural a filha amar e ser amada por um rapaz tão correto e gentil. E a senhora Morland foi logo sendo sincera como sempre.

Certamente Catherine seria uma dona-de-casa bem estouvada – declarou a senhora Morland – mas, adiantou ela, nada melhor do que a prática. (p. 175)

NOTAS

  1. Todas as citações são da tradução de Lêdo Ivo, do meu exemplar de 1982 da editora Francisco Alves.
  2. Imagem: Julia Dearden no papel da Mrs. Morland. Captura de tela da versão 2007 d’Abadia de Northanger.

Visits: 216

Artigos recomendados

4 comentários

  1. Também acho a senhora Morland bastante sensata e tranquila, que gosta sempre de encontrar um lado bom, mesmo nos infortúnios. Exemplo disso é o modo como ela lidou com a decepção do filho James em relação à Isabella Thorpe:

    “No momento é difícil para o pobre James, mas isso não durará para sempre. Creio que ele será um homem mais cuidadoso o resto da vida após ter escolhido tão tolamente da primeira vez”. (Capítulo 29, trad. Julia Romeu).

    Boa semana, Raquel!

    1. Júnior,

      sim ela é muito centrada e ótima conselheira para os filhos. Boa semana para você também!

Deixe uma resposta