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A série de posts iniciados com “Uma semana na Abadia de Northanger” e finalizados neste artigo, são minha procura por sua arquitetura e estilo. Iniciei com as “abadias” dos filmes e dos ilustradores no Jane Austen em Português:

Prossigo agora com o livro e todas a partes citadas são da tradução de Lêdo Ivo.

Quando chegaram à abadia Catherine ficou um bocadinho decepcionada. Nem uma chaminé, sequer!

Mas a construção era pouco elevada e ela atravessou as portas do recinto e se encontrou em pleno território de Northanger, sem mesmo ter visto sequer uma chaminé.

Apesar de ninguém ter certeza acredita-se que Jane tenha se inspirado no que restava  da abadia que ficava junto a escola em Reading, onde ela e Cassandra estudaram. De fato algo modesto como podemos ver tanto na foto atual como na antiga gravura.

Abbey School & Abbey Gate - gravura

Gravura de Ellen G. Gill, circa 1923.

 

 Abbey Gate, Readings | Imagem Wikipedia

Os móveis também era inadequados, modernos demais. A lareira era uma simples Rumford,

Em sua profusão e elegância, os móveis eram segundo o gosto moderno. A lareira, onde esperava ver se delinear esculturalmente vestuta ornamentação, limitava-se a um fogão Rumford com placas de mármore e porcelana ornamentais.

Henry assando maçãs na lareira para a irmã Eleanor e para Catherine
Northanger Abbey, 2007

Neste parágrafo fiquei intrigada com a tradução de “fireplace” como “fogão” e somente entendi quando descobri o site da Rumford. As lareiras Rumford são comercializadas desde 1796. Há vários tipos de lareiras e algumas servem ao mesmo tempo de lareira, forno e fogão.  Vejam as chamadas Cooking Fireplaces nesta página.


Lareira e fogão | Imagem (detalhe) Rumford site

As janelas, apesar do estilo gótico, não estavam sujas, o que tornava o ambiente claro e iluminado. Imperdoável…

As janelas que ela olhara com um interesse todo particular, pois o general lhe havia dito que respeitara religiosamente a forma gótica, não correspondiam aos apelos de sua imaginação. Decerto seu arco havia sido conservado, sua forma era gótica, mas seus vidros eram grandes e límpidos! Para uma imaginação em que as janelas estavam representadas por estreitos gradis, grossas paredes, vitrais empoeirados e decorados com teias de aranhas, a realidade era desconcertante.


Definitivamente as janelas estavam limpas!

Ilustro a descrição das escadas, não com o momento da chegada do texto abaixo, mas com as imagens da versão 2007, quando Catherine e Eleanor arriscam-se a visitar o quarto que havia sido da falecida senhora Tilney.

Atravessaram um imenso vestíbulo, subiram uma monumental escada de carvalho encerado que em patamares curvos, as conduzia para uma longa e espaçosa galeria. De um lado, uma fila de portas; de outro, aberturas na parede que davam para um pátio retangular.

O quarto de Catherine na Abadia também foi uma decepção.

Com um simples olhar Catherine verificou que seu quarto era muito diferente daquele que havia sido descrito tão pateticamente pelo senhor Tilney. Não era muito grande. As paredes estavam forradas de papel, um tapete cobria o assoalho, as janelas não estavam em melhor estado, nem eram menos claras do que aquelas do salão.

No dia seguinte passeando pelo os domínios da Abadia Catherine fica surpresa ao perceber a grandeza do local, o que justifica a escolha do cinema para as locações dos castelos Bodiam e Lismore em 1987 e 2007, respectivamente.

Quando, do prado, viu o conjunto da abadia, ficou surpreendida com sua grandeza. A grande construção encerrava um enorme pátio retangular. Duas de suas fachadas ofereciam à admiração a riqueza de uma decoração gótica.

O pomar e as estufas não interessaram muito nossa heroína. Tampouco os móveis de uma sala magnífica.

[…] ela não se importava com nenhum mobiliário que não fosse de uma época mais recente que o século XV.

A cozinha, de antiga só tinhas as grossas paredes, o resto era moderno no último! As novas construções, que deram lugar ao que estavam caindo aos pedaços desde o tempo do pai do General, e foram destinadas às oficinas, deixaram Catherine incrédula.

Que tivessem destruído parte tão preciosa da abadia, e para um miserável fim utilitário, Catherine mal podia acreditar.

Conclusão: a Abadia de Northanger é um lindo edifício gótico. Mas é claro que nada consegue suplantar a imaginação de Catherine Morland!

CURIOSIDADE

Tenho esta foto de um anoitecer chuvoso na catedral da Sé que acredito que Catherine apreciaria bastante. Nada como uma câmera sem recursos e uma fotógrafa wanabe para produzir algo assustador.

catedral da Sé em São Paulo é um dos maiores templos neogóticos do mundo.

  • Texto publicado originalmente em 19 de setembro de 2010 no meu blog Lendo Jane Austen.

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5 comentários

  1. Marcia Caetano says:
    October 1, 2010 at 8:10 pm
    Raquel,
    Adorei sua série sobre A Abadia de Northanger. Uma curiosidade que achei super interessante: sou casada com um norueguês e quando estou na Noruega noto que eles muitas vezes trocam fireplace por “oven” (o meu marido, que fala português, muitas vezes o chama de “forno” mesmo). Talvez seja pelas mesmas razões que você colocou aí no post. Outra coisa que eu reconheço na leitura dos livros de Jane Austen, por exemplo, é o horário das refeições. Em cidades pequenas da Noruega, o jantar ainda é servido por volta das 16h -17h (e se a casa é de idosos, ele pode sair às 15h!). O almoço, que em norueguês, é “lunjs” (pronuncia-se lunch, como em inglês) é nada: um pãozinho, uns biscoitos, um chá. E o café da manhã tem DE TUDO. Eu acho isso super engraçado!

    1. Marcia,

      muito obrigada!

      Eu imagino que os horários das refeições no hemisfério norte tenham o peso do frio, do recolher-se mais cedo. E na época e círculo social de Jane Austen não havia a necessidade do trabalho como hoje portanto os horários podiam ser bem disparatados! Tenho lido bastante, mas não o suficiente ainda, para escrever sobre os hábitos da época que são tão diferente dos nossos.

      PS: Estou pensando numa temporada na Noruega, não tenho muito apetite de manhã e com apenas chá e bolinhos no jantar eu ficaria esbelta!

      1. Marcia Caetano says:
        October 4, 2010 at 2:56 pm
        Raquel, doce ilusão que você ia ficar esbelta, lá TUDO é com maionese.

  2. Raquel, não tinha reparado no estilo da arquitetura da catedral da Sé, olha que já passei por lá inúmeras vezes sendo uma paulistana nata, mas acho que isso me deu uma ideia para a escolha da abadia nas “próximas filmagens” da “Abadia de Northanger” na versão brasileira. Pelo menos a parte externa já foi escolhida. Essa foto ficou digna da capa do livro, rsrs, abço,

    Patrícia

    1. Patricia,

      essa foto foi tirada em um dia de chuva no lusco fusco da noitinha e correndo o risco de ser assaltada! Catherine certamente ia amar o meu destemor em fotografar em lugares perigosos!

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