Eu não suporto pessoas que não giram a maçaneta das portas ao fechá-las. Simplesmente puxam ou empurram a porta e produzem aquele som horrendo da lingüeta contra o batente. A educação e a civilidade estão nos detalhes.
E um detalhe ficou gravado em minha mente quando li Emma pela primeira vez. Um comentário de Mr. Woodhouse.
Emma, no primeiro capítulo, tenta consolar o pai pela perda da pobre senhorita Taylor, agora senhora Weston, dizendo que fariam visitas freqüentes ao novo casal. Mr. Woodhouse continuava colocando empecilhos nas prováveis visitas: a distância seria longa para que ele fosse a pé, seria curta para o uso da carruagem, os cavalos ficariam no mau tempo etc. Emma tenta dissuadí-lo como se faz com crianças, dando bons motivos:
“They are to be put into Mr. Weston’s stable, papa. You know we have settled all that already. We talked it all over with Mr. Weston last night. And as for James, you may be very sure he will always like going to Randalls, because of his daughter’s being housemaid there. I only doubt whether he will ever take us anywhere else. That was your doing, papa. You got Hannah that good place. Nobody thought of Hannah till you mentioned her—James is so obliged to you!”
Ficariam no estábulo do sr. Weston, papai. O senhor sabe que já combinamos isso antes. Discutimos o assunto como senhor Weston à note passada. E quanto a James , pode estar certo de quem ele sempre tem muito prazer em ir a Randalls, já que sua filha é empregada lá. Não sei a que outro lugar ele gostaria mais de levar-nos. E foi o senhor quem fez isso, papai. Foi quem arranjou esse bom emprego para Hannah. Ninguém havia pensado em Hannah até que o senhor se lembrou dela. James lhe está muito agradecido!
As lembranças agradáveis surtiram efeito desejado e ele começa apreciar a idéia ao lembrar de menina educada, filha de James
“I am very glad I did think of her. It was very lucky, for I would not have had poor James think himself slighted upon any account; and I am sure she will make a very good servant: she is a civil, pretty-spoken girl; I have a great opinion of her. Whenever I see her, she always curtseys and asks me how I do, in a very pretty manner; and when you have had her here to do needlework, I observe she always turns the lock of the door the right way and never bangs it. […]
Estou muito contente em haver pensado nela. Foi muita sorte, pois não estou vendo o pobre James pensando por si próprio em seja lá o que for; e estou certo que ela dará uma ótima empregada; é civilizada, fala com educação. Tenho muito boa impressão a seu respeito. Toda vez que a via, sempre me tratava cortesmente e perguntava como eu ia passando, de maneira muito educada; e quando esteve aqui para ajudar vocês em trabalhos de agulha, observei que sempre fechava a porta de maneira apropriada, sem nunca batê-la. […]
| trad. Ivo Barroso – grifos meus |
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… vou começar a prestar mais atenção, nas portas fechadas de maneira apropriada. Pior que o som da lingüeta, são as portas velhas e pesadas, fazem tremer os vidros do lugar.
Na,
portas batendo me deixam doida!
Eu lembro e gosto bastante deste trecho, pois nunca havia parado para pensar nessa ligação entre fechar de portas e questões de civilidade e educação.
Mr. Woodhouse é um ótimo personagem. Já é um dos meus favoritos em “Emma”.
Na verdade, verdade mesmo, tudo o que é usado com mais força que a necessária é muito ruim. Portas, janelas, catracas de ônibus, louças, eletrodomésticos, relações interpessoais aos trancos e barrancos…
A pergunta é: PRA QUÊ?
Leticia,
preguiça… de girar a maçaneta… ou falta aquele neurônio, justo aquele que comanda o ato de girar…