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Esta resenha de Mansfield Park é a primeira leitura de Fernanda Huguenin, leitora e amiga que já escreveu outros textos aqui no Jane Austen em Português .

Fernanda leu a tradução de Rodrigo Breunig de Mansfield Park, publicada pela L&PM e como todos sabem um dos livros que aos admiradores de Jane Austen tem maior dificuldade de se identificar ou melhor dizendo, simpatizar com os personagens, principalmente pela pequena Fanny Price.


Lendo Mansfield Park pela primeira vez
Mansfield Park, editora L&PM

Lendo Mansfield Park pela primeira vez

“Todos temos em nós mesmos um conselheiro melhor do que qualquer outra pessoa poderá ser.”

Mansfield Park é conhecido como o romance mais controverso de Jane Austen, o mais sério (e melancólico). O livro tem uma narrativa bem descritiva e lenta (assim como Emma) e cuja protagonista é muitas vezes taxada como a mais fraca já criada por Austen, muitas vezes sendo vista como uma santa pelos fãs.

Fanny Price é diferente das heroínas mais populares criadas por Jane Austen. Fanny é frágil, tímida, sensível e muito prestativa para com os outros, a ponto de ser opressivo para ela.

Na minha visão Fanny passa longe de ser santa, pois mesmo tendo consciência de que é desprezada por boa parte da família Bertram ela tem seus momentos de raiva e inveja por sofrer injustiças enquanto seus primos Maria, Julia e Tom são mimados ao extremo sem merecer.

Fanny, no seu papel de  observadora constante, analisa as atitudes ao seu redor, muitas vezes achando defeitos (existentes) e as falhas de caráter que são deixadas de lado pelos bajuladores, já que o que importa é o sobrenome e as milhares de libras que a pessoa possui.

Mesmo passando por situações embaraçosas em Mansfield Park, sua nova casa, Fanny consegue viver feliz e tranquila, sendo tratada como a parenta pobre e recebendo uma atenção fria porém educada da família Bertram, tendo como único amigo e confidente seu primo Edmund Bertram.

Como leitora, Fanny me cativou com seu jeito delicado e silencioso de ser, mesmo ela sendo forçada a sempre ser tolerante com certos tratamentos injustos, ela demonstrou ter uma personalidade muito forte e criteriosa para diferenciar o certo do errado, coisa que seus parentes não tinham. E como todo personagem de Austen, mostra ser muito inteligente, coisa que é totalmente ignorada pelas suas primas esnobes Maria e Julia Bertram, que a acham uma menina estúpida.

Serei sincera, o defeito da Fanny é ser respeitosa demais com os parentes ricos, ela tem receio de parecer ingrata para com eles. Esse defeito é algo ruim e bom ao mesmo tempo. Pelo lado negativo ela sempre será o bode expiatório de alguns e pelo lado positivo ninguém, exceto a sra.Norris, pode culpá-la por alguma falta que ela faz. Esse jeito passivo da Fanny é o que incomoda muitas fãs da Austen. Também me incomodou quando li os trechos de injustiças mas depois, quando parei para analisar, vi que sendo a família de Sir Thomas Bertram, na sua maior parte formada por pessoas orgulhosas, sensíveis à censuras e prontas para criticar e castigar Fanny pela sua “ingratidão”, acabei vendo que se a pobre srta.Price tentasse reclamar de algo só iria piorar as coisas para si mesma.

Fanny não faz parte dos personagens que precisam fazer alarde para impor suas opiniões e vontades para os que a cercam (isso muitas vezes soa infantil), ela guarda suas opiniões para si mesma (já que poucos ligam para o que ela pensa), afinal seu pensamentos são seus melhores amigos e devem ser mostrados apenas para os que merecem e querem escutar (Edmund e seu irmão William Price).

A rotina é completamente mudada quando o libertino Henry Crawford e sua mundana irmã Mary se mudam para a casa de sua irmã casada, a sra.Grant que mora nas vizinhanças e tornam-se visitantes assíduos em Mansfield Park.

Antes de ler Mansfield Park, já conhecia certas opiniões sobre o sr.Henry Crawford, que muitas fãs argumentavam que teria sido um melhor par para a Fanny do que Edmund Bertram. Durante a leitura ,achei o amor de Henry por Fanny mais como algo de posse do que amor de um modo puro. Seria algo do tipo “essa dama é diferente das outras, preciso tê-la!”. Sem contar que os princípios morais do rapaz serem completamente diferentes dos de Fanny. Henry Crawfordele se mostra vaidoso demais e acho que se ele realmente amasse Fanny teria feito algo melhor do que o desfecho que ele teve. Assim como Willoughby, sua fraqueza foi o orgulho.

Simpatizei com Edmund no início da leitura mas comecei a ficar chateada com a paixão dele pela leviana e intrigante Mary Crawford, não querendo ver seu modo egoísta e desrespeitoso e pelos pesares que criou na pobre Fanny. Mas entendo que no calor da emoção ficou empolgado demais. Se isso acontece na vida real imagine se não ocorreria nos livros da srta. Austen, vide o caso de Marianne Dashwood, em Razão e sentimento.

E finalizando, não acredito que o amor do Edmund por Fanny foi algo de repente ou por conformismo. Como leitora de Jane Austen sei muito bem que a escritora não tinha o hábito de detalhar muito o começo do afeto dos protagonistas – talvez para evitar que ficasse meloso e longo demais (será?), como podemos ver no trecho abaixo a voz da narradora:

“Eu propositadamente me abstenho de datas nessa ocasião, de maneira que cada um pode ter a liberdade de fixar sua própria época, ciente de que a cura das paixões inconquistáveis e a transferência de afeições imutáveis sempre variam muito quanto a passagem do tempo, de pessoa para pessoa.”

Mas Jane mostra rotina do futuro casal, como eles passavam o tempo e como acabavam se aproximando até chegar ao matrimônio, como a percepção de Edmund em relação à Mary Crawford no final do romance:

“… tinha defeitos de princípios,de delicadeza embotada e de uma mente viciada e corrompida.”

E como acabou se apegando mais a prima ao perceber que

“… a própria Fanny estivesse se tornando tão querida, tão importante para ele,com todos os seus sorrisos e todos os seus modos,quanto Mary Crawford jamais tinha sido.”

Começou a amar Fanny mais do que como prima, a ver o quão ideal ela era para sua felicidade e também ficou inseguro se ele era digno de estar com Fanny já que durante toda a história ela foi a única que não se deixou iludir pelos modos agradáveis dos Crawford. E no final foi uma união feliz porque ambos se amavam.

E essa foi minha última leitura inédita da Srta Jane Austen, e é claro que vai entrar na minha lista de favoritos da escritora!

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4 comentários

  1. Fiquei com receio do texto conter spoilers, mas não resisti e li tudo. Parabéns pela resenha, Fernanda! Pretendo ler “Mansfield Park” no início do próximo ano e honestamente estou achando que vou gostar muito.

  2. Muito obrigada Júnior! Fico aliviada que minha
    resenha tenha agradado, já que foi feita sobre um livro
    tão polêmico da Jane kk. 🙂

  3. Tenho uma sensação (estranha) de alívio sempre que leio uma resenha elogiando Mansfield Park. Por ser um dos meus preferidos da Jane, acho injusta a maioria das críticas feitas ao livro kkk. Concordo com tudo o que você disse!

  4. Oi Beatriz, fico feliz que tenha gostado! MP é um livro beeem diferente de “O&P”, mas
    merece o mesmo respeito que este, depois da minha leitura ele entrou na minha lista de prediletos, e como você também sinto um certo alívio quando falam de MP de uma forma positiva rs.

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